Rozelene Furtado de Lima
Teresópolis / RJ

 

Fiquei nuvem

 

A chuva veio de mansinho
Foi acariciando meus cabelos
Meus ombros e eriçando meus pelos
Colando no meu corpo devagarinho
Como quem não quer nada, meio pacata
Foi encorpando e vindo de todos os lados
Deixei lavar minha alma, meus pecados
Escorria pelas minhas costas em cascata
Batia da cabeça aos pés, sem nenhum pudor
Fustigando meu rosto nu e meu corpo inteiro
Em conluio com um vento sorrateiro
Eu tremia e tilintava a balançar num torpor
Chovia a chuva em gotas fortes
Soprava e cantava com o vento
Uma cantilena ritmada sem sentimento
 As folhas como dançarinas eram lançadas à sorte
Na luta covarde, tão sem forças que me abracei
Na prova temporal, senti solidão
Fiquei nuvem no céu do chão
Sem resistência me entreguei
Deixei chover, chovi também
Chorei

 

 

 
 
Poema publicado no livro "100 Grandes Poetas Modernos" - Edição Especial - Julho de 2017