Charlles Garcia Costa
Florianópolis / SC

 

Apolo e Eurídice

 


Ao filho de Apolo, foi entregue a lira celestial.
Tocou-a com tanta perfeição que trazia a seu colo, entes em face vestal. Conheceu uma moça de mais pura nobreza, ao qual se entregou ao amor. Ela passeando pelo campo com sua beleza foi perseguida por um louco pastor.

O medo cegou teus sentidos e não percebeu a serpente entocada. Teus gritos e lamúrias foram contidos com o beijo em tua pele imaculada. Orfeu percorreu todos os vales possíveis assim como todos os mares, evocou os morcegos de gritos temíveis e todas as aves dos ares.

E nem assim conseguiu te achar. Não quis de nenhuma forma pensar que a morte foi te encontrar, e em tua face marcada, está o penar. Cantou para todas as criaturas, todas que respiram como nós. Encontrou deuses fazendo diabruras e entre eles um atroz.

Mostrou a Orfeu um reino inferior que todos irão passar. Tocou sua lira para encantar o deus que lá habita, e cumprir consigo o termo da vida. Implorou para sua esposa voltar.

Conseguiu a permissão para levá-la com apenas um porém, de que não poderia olhá-la enquanto estivesse no além. Depois de tanto caminhar do pacto se esqueceu, e para trás se virou. Sua amada ele não conseguiu abraçar e pela segunda vez ele chorou.

Ficou ali sentado sem nada fazer, apenas tocou sua música. Esperando cada parte de seu corpo morrer sem que ninguém escutasse sua súplica. Orfeu morreu e foi levado ao encontro de sua Eurídice, que agora abraçado não foi nem recriminado por um olhar descuidado.

 

 

 

 

 
 
Poema publicado no livro "4º Anuário da Nova Poesia Brasileira" - Maio de 2018