André Luiz de Oliveira Pinheiro
Rio de Janeiro / RJ

 

 

 

Mudando os sentidos

 

Ah, se minha mente falasse
Diretamente da mente
E não ficasse num enlace
Na língua à boca da gente...

Muita coisa falaria
Porcaria ou coisa boa
Do discurso à poesia
Não seria nada a toa...

Mas maldito é esse jeito
O jeitinho de todo mundo
Passam palavras num pleito
No peito a cada segundo...

A gente culpa a razão
Pela triagem maldita,
Mas bendito é o coração
Nessa tarefa inaudita...

Às vezes o discurso vem
Bem prontinho de dar gosto,
Mas sentimento o detém
Amiúde, a contra gosto...

Que desgosto, que desgosto!...
Eu pensei e já foi embora
Chega trinta e um de agosto
E eu não lembrarei, embora,

Faça esforço desumano
Para tudo eu lembrar
Semiologias do arcano
Que faz-nos sempre pensar:

Porque a boca fica embaixo
Dos olhos e do nariz
Vai ver pra olhar por baixo
Sentir cheiro do que diz...

Na verdade se queria:
Que tudo desobedeça!...
Que os olhos fossem pra boca
E a boca lá pra cabeça...

Talvez não ganhasse tempo
Para escrever todo dia
Como agora neste exemplo
Desta minha poesia...

 

 

 

 

 
 
Poema publicado no livro "5º Anuário da Nova Poesia Brasileira" - Agosto de 2019