Teresa Cristina Cerqueira de Sousa
Piracuruca / PI

 

 

Aquele abraço




          Não houve muita gente. A casa, quase vazia, tinha apenas o caixão no comprimento da sala com os castiçais de velas acesas ao redor. Uma das filhas do finado estava sentada numa das laterais, numa cadeira de madeira tipo colonial. Tinha olhos marejados de lágrimas.
         Havia uma mesinha na varanda com uma garrafa térmica contendo café e numa bandeja de inox uns copinhos descartáveis. Não havia bolos ou biscoitos. Comia-se de uma mão só, como dizia minha vizinha. A esposa devia estar chorando dentro do quarto pela morte do marido. A filha mais nova parecia estar com ela já que não a vi enquanto estive lá.
Somente minutos o velório. O finado morrera de câncer. Todos na rua sabíamos de sua doença há meses. Mas eram tempos de pandemia de COVID 19. As pessoas não se aglomeravam. Não se podia ficar orando pelos mortos por longo tempo. Nessas horas, percebia-se que esse novo aspecto do convívio social doía na alma.
         Então a outra filha chegou. Era resultado do primeiro casamento do finado. Ela olhou em redor e avistou a meia-irmã. Esta de doze anos e Ana de trinta e cinco. Sempre fui conhecedora da vida da vizinhança. Agora, tristemente, via mais uma cena.
         Não choraram. Ana se aproximou da meia-irmã (esta tremia um pouco os lábios) e de pé, bem próximas, abraçaram-se. Foi aquele abraço de carinho e afetividade. Uma se apoiando na outra. Chorei.   

 

 


 




Conto publicado no livro "Aquele abraço" - Contos selecionados
Edição Especial - Outubro de 2020

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