Romilton Batista de Oliveira
Itabuna / BA

 

 

Amor contraditório

 

Queremos dizer o que nos falta
Porque o que nos falta é o que nos tiram
E o que nos tiram faz falta
E vivemos nesta falta…
Numa angústia que desfaz a escritura movente
Elevando-a ao desastre do qual Blanchot
Conseguiu traduzir por meio de uma pena intraduzível
A intensa dor que invade a alma da gente…
Queremos dizer dizendo o que não é possível dizer
E é fácil dizer quando habita em nós
A marca da ferida que nos feriu,
Mas o difícil do dito não dito bem dito
É reconhecer que o erro de seu mal dito foi dito
Dito na contradição das ondas discursivas
Na negação de si por um outro sem nome
Mediado por uma sombra que escondeu de si
Seu decrépito desejo de afirmar-se negando a si mesmo
E ao negar a si mesmo, desfaz-se em perdas distraídas…
Conformando-se com a doce saudade de não ter vivido
Um grande e intenso perdido amor
Amor pelo que se perdeu
Sem nunca ter-se perdido…

 
 
Poema publicado no livro "Poemas do Amor Maior"- Edição 2019 - Janeiro de 2020