Rubens de Azevedo Muniz Junior
São Sebastião / SP

 

 

A minha dor

 

A minha dor é o mosteiro que se esconde entre nuvens
Que caminham no azul cetim do céu de Emei Shan
Espaços, colunas, corredores, claustros, visões, silencio
Donde sua origem esconde lamentos, choros, dor, sofrimento
Encravadas em cada pedra, nas argamassas molhadas de lágrimas.

Em cada batida do malho esculpido na forte madeira
O sino dobra seu gemido de dor, que espalha acústica de pranto e agonia
Anunciando o início ou o fim de mais um dia, onde as cores se misturam
De um roxo combalido ao desmaiar do negro vestido
Cingindo todos que partiram, e no pó da vida se despediram.

A minha dor é o mosteiro que se esconde entre as nuvens
Que dançam ao som do cantarolar alegre dos coloridos rouxinóis
Que saltitam entre os galhos dos pessegueiros, que se debruçam
Nos penhascos dos jardins, que colhem as gotas do orvalho no anunciar
A chegada de mais uma primavera, onde lírios brancos são presente de você.

A minha dor é apenas o triste momento no mosteiro onde vivo
Onde as minhas preces, o meu choro, o meu grito
Se perdem nas nuvens dos céus de Emei Shan
E as palavras de lamento são levadas pelo vento que sopra sem ferir
Os galhos dos pessegueiros, sem que ninguém ouça... A não ser você.

 

(A minha amada Amélia que partiu me deixando só)

 

 
 
Poema publicado no livro "Anuário da Nova Poesia Brasileira"- Edição Especial - Maio de 2017