Rozelene Furtado de Lima
Teresópolis / RJ

 

Automartírio

 

Não encontrei qual foi o motivo
Que desencadeou esta lembrança
Inesperada e direta como uma lança
Trazendo com ela um momento lascivo

Entrou sorrateira pela porta da frente
Como se fosse uma visita querida
Foi rasgando o tempo e abrindo feridas
Saudade viscosa sangrando e quente

Abracei o passado em pleno delírio
Que fez do amor acabado seu porta-voz
Beijei os lábios frios da minha história

No fascínio solitário do automartírio
Sem reação nas mãos do meu algoz
Sofri a lânguida vingança da memória

 

 

 
 
Poema publicado na Antologia de Poetas Brasileiros Contemporâneos - Volume 145 - Janeiro de 2017