Aliomar Costa
São Paulo / SP

 

Falsos poetas

 

não irei jamais mudar de lado,
nem pra própria morte,
feito falsos poetas contrariados:
destruindo valores a própria sorte

o poeta não pode defender os brutos,
nem se apequenar no mercado financeiro,
mas deve estar sempre em luto:
contra as injustiças dos justiceiros

não deve pedir prisão pra ninguém,
pois sabe o que é o cárcere cruel e imundo,
só a liberdade salva alguém,
neste inferno chamado mundo

saber perdoar ao menos por coração,
não usar a vingança como arma,
não fazer da vida um sermão:
nem ser o carrasco empunhando a espada

a obra só imortaliza com a sutileza,
com amor, resignação e humildade,
o poeta e da flor a sua beleza:
 do sentimento o enigma  desta  saudade

academia nem pra tomar um chá,
quem gosta de carregar peso morto é guindaste,
concretismo não é o viaduto do chá:
por isso tô fora deste desastre

ser poeta com rancor
não vale uma linha escrita,
pois semear a dor
não é obra de artista

 

 
 
Poema publicado na Antologia de Poetas Brasileiros Contemporâneos - Volume 145 - Janeiro de 2017