Gabriel Antonio Ogaya Joerke
Cuiabá / MT

 

 

A velha e feliz senhora

 

Os cabelos ralos os levava despenteados.
Sua fina pele marrom estava cingida
por rugas que lhe desenhavam o rosto.

Suas finas pernas debilitavam seu andar.
As unhas pintadas de vermelho vivo,
arte de sua neta coquete.

Os olhos irrequietos,
ainda permaneciam vivaces,
tanto quanto seu sorriso.

Usava, diaramente, presentes do finado –
anéis, correntes, pulseira de oro bom –,
embora não fosse dia de festa.

A maior parte do tempo o passava
a balançar na rede e fumar seu cigarro,
vestida de bata de algodão clara.

A velha senhora, não era beata;
nunca confessou um credo.
Contudo, rezava o rosário.

A velha e feliz senhora.

 

 
 
Poema publicado na Antologia de Poetas Brasileiros Contemporâneos - Volume 146 - Fevereiro de 2017