José Luiz da Luz
Ponta Grossa / PR

 

Talvez um dia

 

 

Talvez um dia a flor beije o beija flor,
e os espinhos deem néctar num jardim.
Quem sabe o inverno se aqueça de amor,
e as pedras despertem do sono sem fim.

O dia a dia será de grandes dias,
Se um dia, as dores voltarem a sorrir.
Quando chorarem as estátuas bravias,
e o ser humano ver-se humano e haurir.

Se um dia! Quando as vozes alimentarem,
como meigas orações pelos ouvidos,
fazendo as estatuas do sono acordarem,
saciando todos os famintos sentidos.

Talvez um dia reine a paz no jardim,
quando os insetos não mais se devorarem.
Pois sob as flores há uma guerra sem fim,
simulando uma paz àqueles que olharem.

Na experiência do sol, no afago da lua,
Saberá um dia, nossa alma ser feliz.
Pelos erros e acertos que a alma flutua,
sob as leis divinas, a força motriz.

Se os sonhos parecem o mar em furor,
é insano um medo que envolvesse.
No mundo, o que seria do beija flor,
se ele, em presença dos espinhos corresse?

 

 
 
Poema publicado na Antologia de Poetas Brasileiros Contemporâneos - vol. 147 - Abril de 2017