Lourival da Silva Lopes
União / PI

 

A vida e suas profundezas

 

Escrevo sem saber o que sou enquanto escrevo.
Paradoxalmente, sou aquilo que escrevo,
Por isso não me sofistico, não me encho de aparências;
Vivo no simples e na humildade
E gasto minhas energias tentando me energizar.
Às vezes, consigo um pouco de ilusão,
Mas busco não me iludir; quero transmudar,
Transgredir e fazer da revolta uma oração.
Quem busca no sacrifício se despe de suas vontades;
Quem espera que os sonhos aconteçam
Não precisa sonhar.
Os sonhos são retas infinitas que atravessam os abismos
E nos põem de cabeça para baixo,
Para fixar a ideia de que a vida esconde profundezas
E que há necessidade de experimentar os acasos,
O outro lado dos excessos,
E fazer das insignificâncias o gozo do prazer.

 

 

 
 
Poema publicado na Antologia de Poetas Brasileiros Contemporâneos - vol. 151 - Agosto de 2017