Romilton Batista de Oliveira
Itabuna / BA

 

Poesia da contradição

 

Desisto das palavras, dos sons, ecos e rancores
Desisto das formas, dos gostos, dos amores
Dos tremores, dos terrores, dos temores...
Desisto da dor, da angústia, deste imundo mundo
Da estrada percorrida, do desassossego individualista
Desisto das ofensas, das mágoas, das partidas
Dos gestos, das lágrimas, das águas amargas...

Desisto da ordem, dos gritos perdidos nos becos sem saída
da cretina violência
Da música sombria da morte, da falsa alegria da vida
embalada pela prosa literária.
Desisto dos ditos repetidos, ditos malditos, nefastos,
insanos, errôneos
Da saudade, da estranheza, da guerra que invade
meu silencioso interior
Desisto. Desisto. Desisto... Insisto.
De querer ser o que jamais serei
De querer andar por ruas que não quero andar
De plantar o que eu não quero plantar...
Mas insisto. Insisto. Insisto. Resisto.
Respiro o ar que amargamente adentra meu ser
O mal que a mim me tem, o mal que eu fiz a mim mesmo...
O mal que é bem dividido em minha forma colonial de ser...
Saio de cena, não como herói, mas como resistente ser
Que sem gênero classificatório, ergue a espada pra cima e grita:
Independência ou Morte! Ainda que tardia...
Arde ainda...
Pronto! O ar esvaziou-se de mim e finalmente
Fez-se poesia muda, estúpida, a-movente...
Poesia da contradição.

(Ao amigo Simon, feito de luta e resistência!)

 

 

 

 
 
Poema publicado na Antologia de Poetas Brasileiros Contemporâneos - vol. 155 - Dezembro de 2017