Ismar Carpenter Becker
Rio de Janeiro / RJ

 

A vida a rolar

 

Rolando como seixos rio abaixo
Desgastando -se com o turbilhão das águas
que seguem rumo ao mar
Rolando no leito em noites insones pensando num velho amor
que envenenou um coração
Rolando como água de cachoeira zoando sobre as pedras
passando de mão em mão
Como cédulas sem dono definitivo
Rolando como uma bola entre pernas com sede de gol
Ou jogando como uma nau de mares revoltos
Jogando para lá e para cá causando asco
Rolando dia e noite durante as estações do ano
O tempo impiedoso que passa alheio a tudo e a todos
Num movimento  contínuo
Cujo fim é a última barreira a desmoronar duma falésia
À beira do mar.
Ou como pétalas ao vento siroco num deserto sem fim

 

 

 

 

 
 
Poema publicado na Antologia de Poetas Brasileiros - vol. 160 - Maio de 2018