Rozelene
Furtado de Lima
Teresópolis / RJ
Verso vazio
Tem um vazio em meu desvario
Tal um buraco escuro no futuro
Tem um oco que repete um eco
Que estilhaça cada som do nada
Como tampa que não tampa a lata
Lata vazia que rola e atola na lama
Descanso no travesseiro sem cheiro
A cavidade da asa queima como brasa
Sapato furado e cadarço desamarrado
Sem chão sem barreira e sem coleira
Vazio profundo fixo no vácuo do mundo
Origem da vertigem no hiato da altura
Cilada invisível na luz apagada da visão
Lacuna na memória com falhas na história
Numa senda mutável, chocha e descartável
O ser amado perdeu o presente no passado
No cosmo, sou o intervalo do tempo
Sou janelinha nas entrelinhas do infinito
Invadida pelo vento nos vazios do tudo
No meu desvario sou um verso vazio
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