Rozelene Furtado de Lima
Teresópolis / RJ

 

Verso vazio

 

Tem um vazio em meu desvario
Tal um buraco escuro no futuro
Tem um oco que repete um eco
Que estilhaça cada som do nada

Como tampa que não tampa a lata
Lata vazia que rola e atola na lama
Descanso no travesseiro sem cheiro
A cavidade da asa queima como brasa

Sapato furado e cadarço desamarrado
Sem chão sem barreira e sem coleira
Vazio profundo fixo no vácuo do mundo
Origem da vertigem no hiato da altura

Cilada invisível na luz apagada da visão
Lacuna na memória com falhas na história
Numa senda mutável, chocha e descartável
O ser amado perdeu o presente no passado

No cosmo, sou o intervalo do tempo
Sou janelinha nas entrelinhas do infinito
Invadida pelo vento nos vazios do tudo
No meu desvario sou um verso vazio

 

 

 

 

 


 
 
Poema publicado na Antologia de Poetas Brasileiros - vol. 160 - Maio de 2018