Alberto Magno Ribeiro Montes
Belo Horizonte / MG

 

 

Lavadeira de beira de rio

 

Eh, lavadeira que lava o mundo!
Lava a roupa do Raimundo.
Lava…lava…lava. Lava o rio, o sertão, o mar…
Como o pranto de meus olhos lava as mágoas e o sonhar.

Seus olhos, de um negro profundo
Como a pedra em que bate e seca a roupa.
Ensaboa…ensaboa…ensaboa, que a água hoje está boa.

Seu canto suave ecoa além da ponte e de lá segue mundo afora
Os pilares dessa ponte molduram esse quadro surreal
Em que só vejo o que de real.

Não é do Velho Chico a que vejo agora
E sim a do Jequi, meu velho Jequitinhonha
Que reflete no azul do Tejo, através dos braços de suas montanhas.

Seca…seca…seca…a seca(ê).
Seca roupa no sol escaldante
Seca as desventuras da vida, num abraço insano e sutil
A pele queimada dá sustança ao corpo… à trouxa seca na cabeça.

No escalda-pés da água quente do rio
Segue certa, na mesma diretriz
Lavando sem dó as roupas da meretriz!

E à noitinha, cansada, vendo as estrelas
Fica a sonhar, com os peixes, com o canto
Com a pedra…Com a linha do horizonte sobre o rio
Sobre as nuvens, sobre o tudo. Sobretudo, sobre o tudo…
E no sobrevoo na ponte, o céu alcança num instante.

 

 

 

 

 

 
 
Poema publicado na Antologia de Poetas Brasileiros - vol. 161 - Junho de 2018