Romilton Batista de Oliveira
Itabuna / BA

 

 

Disto somos isto

 

Não sei escrever para fascistas nem para nazistas
Este é o meu ofício: escrever para quem quer se libertar…
Não escrevo para matemáticos gregos ou troianos
Nem para psicopatas da tecnologia desumana e ambulante
Não escrevo para quem não aprecia as artes, as palavras, a literatura
Nem para alienados, nem para psicopatas da desordem humana…
Não aprendi a escrever fora do humano que reside em mim
Fora das ciências socialmente interativas, da complexa interdisciplinaridade
Do pensamento decolonial, do discurso que interessa aos descolonizadores…
Escrevo também para quem ama literatura, arte e poesia, dança e alegria…
Escrevo para quem é historicista de alma e de escritura sangrada
Quem filosofa com o menor gesto de alguém que viola os direitos de outrem…
Quem vê o social antes do ditatorial… e logo protesta: Deixe disso, meu rapaz!
Escrevo para quem faz leitura psicolinguística com um mesmo olhar
Aquele olhar distraído, feito de gente, feito de linguagens…
Escrevo para os amantes da natureza, para quem aos pobres estende as mãos…
Para quem não faz da religião vício, ópio, mundo de prisão,
Sem enxergar o mundo do outro, bem próximo de si…
Escrevo para os que se emprestam ao outro sem querer nada em troca
Porque o amor os cobre de beleza, gentileza e poética alteridade…
Por fim, escrevo para quem, de repente, permite ser transformado, tocado…
Ver, sem ódio, rancor ou pudor, sem máscaras ou identidades inventadas
Porque os que me leem, leem também a si, e na sensata alteridade,
Desfeita da senzala, os que me leem,
Traduz-me por sua parte, uma parte de mim,
Pois uma parte de mim, é parte de si,
A outra parte de mim, já não mais em mim está…
E disto somos isto. Fora disto, o resto é não-ser...

(Ao meu ex-aluno Wesley que é um escavador do conhecimento)

 

 

 

 
 
Poema publicado na Antologia de Poetas Brasileiros - vol. 164 - Setembro de 2018