Vanusa da Mota Santana
Santo Antonio de Jesus / BA

 

 

Devaneio

 


No sono profundo
ela despertou
do nó na garganta
do enforcamento da própria respiração.
Seu sufoco alardeado
explodiu em descarga elétrica.
Espalhou-se aos quatro cantos.
O universo a ouviu!

Dos seus olhos
brotaram riachos em correnteza.
Irrigou a Terra.
Tudo agora era fértil.
Leveza a traduz!

Em delírios, memórias e afetos,
abriu os olhos.
Sentiu o quão iluminado foi o seu divagar.
Sentiu sua cama,
seus pulsos,
seu corpo imóvel.
Sentiu por tudo
Sentiu muito!

Em sua volta as mesmas flores
Cuidadosamente arrumadas
em ritos diários.
Ela não riu como de costume.
Aquele odor era fétido.
Levantou-se, abriu a porta e saiu.

E, como no sonho,
a luz feriu os seus olhos.

 

 


 

 

 

 

 

 
 
Poema publicado na Antologia de Poetas Brasileiros - vol. 165 - Outubro de 2018