Aliomar Costa
São Paulo / SP

 

Inútil deserto inútil

 

acho que ando meio desfocada,
sem o prazer pra poder me arrastar,
só convivendo com a papelada,
não ter no coração alguém  pra amar

tenho um cara que não é quase ninguém,
falta o calor da paixão avassaladora,
sempre o mesmo nhem-nhem-nhem meu bem
no meu céu tem uma nuvem negra ameaçadora.

parece castigo em  não ter o que ver,
só paisagens insólitas e nada no corpo sentir,
um universo selvagem pra  no  meu ventre  receber:
mas o cometa alucinante  não vem me explodir

estou cansada e casada com a solidão,
cercada por estrelas super embaçadas,
como sorrir pra uma nova paixão,
se estou presa com a boca fechada

passarei por esta terra,
sem ver o que é a felicidade,
enfim estou em guerra,
nem sei mais o que é saudade

uma hora tomo coragem,
me entrego pro pecado perverso,
ser uma mulher de verdade nesta viagem,
amar não pode ser este inútil deserto !

 

 

 

 
 
Poema publicado na Antologia de Poetas Brasileiros - vol. 166 - Novembro de 2018