Aliomar Costa
São Paulo / SP

 

 

Café - bloco de carnaval

 

o café  anda triste e mais frio,
sua ausência calou minha caneca,
o leite desandou e foi pro rio,
o pão ficou seco sem a sua geléia.

na mesa só sobrou tristeza,
quando seu olhar foi embora,
sobrou torradinha, faltou manteiga,
o chocolate de saudades ainda chora.

açúcar demais: amarga a doce união,
mas o adoçante é  sempre o mascarado,
o café solúvel do senador perdeu a eleição,
é  tudo quartel, é  tudo soldado.

assim o sol da manhã anoiteceu,
a torradeira ficou aposentada,
a lua nem te avisou, piscou,
que cadeira pra chá é outra parada, sem parada.

a faca do destino já não andava mais afiada,
ser enfeite só pra bloco de carnaval,
a amizade às vezes fica enferrujada,
palavras são apenas um velho coador marginal.

 

(dedicado a KDA)

 

 

 

 

 

 
 
Poema publicado na Antologia de Poetas Brasileiros - vol. 169 - Março de 2019