Romilton Batista de Oliveira
Itabuna / BA

 

 

Transeunte aeroportuano

 

Fazia frio, mas naquele lugar eu me aquecia
Extenso aeroporto de Bruxelas…
Lugar que enunciou um profundo e transcendental verso
Que me fez repensar a vida…
Na noite adentro eu via de meu “canto hoteleiro”
Cenas de um mundo pós-moderno em trânsito, em transe…
Via um grupo familiar que como passageiro à espera de seu voo
Por ali ajeitava-se, agrupava-se timidamente…
Mas uma cena chamou-me a atenção…
Mexeu com o meu silencioso olhar de transeunte aeoportuano:
Era uma mulher potencialmente negra na pele e guerreira na sua atitude!
Ela se aproximava de um casal de idoso que no canto, desajeitado, estava
O poeta avistou o olhar de entrega do branco idoso e de sua esposa
Recebiam com gratidão o alimento que a humilde mulher o dava…
Falavam numa língua provavelmente alemã…
Mas o olhar ultrapassava qualquer estranho idioma
Pelo olhar foi que eu examinei, a distância, a cena que se apresentava
Naquela fria noite de espera, longínqua espera…
Delirante espera, insipiente espera ameaçada por uma saudade
Que atravessava o interior do poeta em seu silencioso canto…
Outras cenas foram vistas e poeticamente traduzidas pela curiosidade
Que se misturava ao cansaço de um transeunte que ali também se alojava…
Alojamento temporário… desses que a gente se joga em qualquer canto
À procura de relaxamento para um corpo cansado da investigativa viagem
Sei que tem algo de estranho naquilo que eu olhava…
Vi a vida de pessoas que evaporavam rapidamente,
Seguindo a correnteza da vida que distancia os seres de sua serenidade existencial
Vi, de repente, que a vida não passa de uma corrida contra a própria vida…
Aprendi com as cenas que eu vi que a vida passa rapidamente…

 

 

 

 

 

 
 
Poema publicado na Antologia de Poetas Brasileiros - vol. 169 - Março de 2019