Romilton Batista de Oliveira
Itabuna / BA

 

 

Desvairado grito de esperança

 

Um tiro, um aviso da morte
Dois tiros, grande revolta de um corpo a cair
Três tiros, conspiração contra a vida
Quatro tiros, arrastão da morte do fascismo devorador
Cinco tiros, a banalidade da inexplicável morte em extensão
Seis tiros, o desespero do lamento da classe oprimida
Sete tiros, o anúncio de uma grande catástrofe profética e desastrosa
Oito tiros, a perda de humanidade do sentido libertador da vida
Nove tiros, a desgraça em descontrolada ação...
Dez tiros, o começo de um governo nazista que derruba de uma só vez,
A história de democracia de um país que apela à ideologia do ódio...
Esses “80 tiros” não faz parte de nenhum enquadramento lógico
Do conhecimento da chacina em nenhum lugar do mundo....
80 páginas escritas não seriam suficientes para narrar esse horrendo episódio
80 tiros que a impunidade enfia a goela abaixo na sociedade abatida e ferida
80 tiros que não cabem em nenhuma poesia, nem nos relevantes jornais…
A sociedade está inerte, calada, silenciosa, imóvel, a espera de quê?
Na minha poesia eu luto no luto por um país que não quer lutar…
Na minha poesia eu luto no luto por um país que está calado,
A ouvir e presenciar todo o terror de sua casa, de braços cruzados...
Na minha poesia eu luto no luto por um país que se entregou...
Sem protesto, sem discurso, sem luta, sem resistência
A ver seu irmão sendo sangrado pelos defensores da ordem,
Mantida pelo governo da “banalidade do mal”,
Grita Brasil! Saiam dos quintais fechados...
Vão para as ruas “atirar” nestes bandidos
Com a sua grande voz de país continental...
Atirar com a potência de um povo gigante que sabe quando deve lutar…


(À minha amiga Efigênia Oliveira)

 

 

 

 

 
 
Poema publicado na Antologia de Poetas Brasileiros - vol. 173 - Julho de 2019