Romilton Batista de Oliveira
Itabuna / BA

 

 

Nada será como antes

 

O tempo, o sonho, o vento, as ondas, as águas, o mar…
O mergulho do homem tomado pelas sombras do passado.
O santo, o profano, o próximo, o distante, o agora, o nunca mais…
O escavar no interior o segredo da alma errante.
A dança, o mover dos corpos, a ruptura dos sons, o horizonte…
O eterno retorno é o fantasma de nosso tempo.
A imagem, a repetição, a ópera da imaginação, o decifrável gesto indecifrável…
O ontem, o hoje, o abraço rejeitado do poeta que se alucina
No mais de repente momento fugaz do sentido disperso se vê
O retrato do poder deformado no reflexo de um só percurso
Nada será como antes!
Porque o homem que dorme no rio de dementes águas
Perde-se em seu próprio destino de enganosos discursos
Que a morte dilacera em pequenos segundos
Ameaçadores da ordem vigente…
Nada será como antes!
Náufrago rio perdido em suas lembranças
A vingar o seu passado à sombra de infinitas perdas
Que se fazem presentes no hoje tão diluído, subtraído, evasivo
Em que não cabe mais pensar dentro do pensamento
Pois a interrupção sempre é parceira inimiga dos viajantes…
Nada será como antes…
A porta se fecha num suplício martírio de dores gigantes
Que atormenta o mundo dos pequenos planos que dissolvem
Na intensa luz que depressa enfraquece-se
E desaparece sem deixar rastros…
Nada será como antes.

 

 

 

 
 
Poema publicado na Antologia de Poetas Brasileiros - vol. 177 - Novembro de 2019