Romilton Batista de Oliveira
Itabuna / BA

 

 

Casulo da verdade

 


Ontem eu fui...
Hoje eu deixei de ser o que ontem fui
E amanhã serei o que ontem eu não conseguir ser
E mesmo sendo o que eu tentei ser
Invadi espaços, disse o que meu coração sentira
E por deixar ser movido por meus instintos fieis e legítimos
O outro se ofendeu com o meu mundo exposto...
Ontem eu vi e senti o que eu vi
Hoje o que eu vi e senti ontem deixou de ser visto e sentido
E agora, neste momento meu
Sinto que minha vida jamais será vivida por ninguém
Porque o que eu vivi somente eu vivi
Isto me faz ser o que hoje eu construir:
Um ser que se afasta de tantos outros seres
Para ser em seu total isolamento
Um ser que se liberta das amarras e mesmices do outro...
Eu sou eu, e quem tentar ser o que eu sou perderá o seu destino
Porque o meu destino é feito de letras, palavras, discursos
Silenciamentos, descobrimentos, vivências...
E da minha vida cuido eu, como poeta que está preso por vontade...
Porque sendo eu poeta, sei que não há lugar para mim
Neste mundo feito de seres bestificados por suas fantasias…
Homens e mulheres presos em seus podres "castelos discursivos"
Feito de ódio, inveja e solidão...
E destes enunciados eu quero manter distância
Porque em meu doce amargo lar, eu me sinto presente em mim
Aquele que não se mostra em nenhum lugar
Porque só quando estou em meu casulo
Disfarço-me das máscaras que uso no meu dia a dia.

 

 

 

 
 
Poema publicado na Antologia de Poetas Brasileiros - vol. 179 - Janeiro de 2020