André Luiz de Oliveira Pinheiro
Rio de Janeiro / RJ
Necrológio
Só olhando o relógio
Eu já perco tempo
Só medindo meu tempo
Fico sem medida
Digital, analógico
O chacal da vida,
Nosso mal cronológico...
Muda voz temida!
Desde que nasci
Não perde tempo
Dos ponteiros me diz:
Daqui contemplo
O seu fim que um dia
Chegará...
No meu tempo que resta
Eu faço versos
Pois, depois do meu fim
Não há relógio
Só no espaço a destempo
Incompreensível
O invisível eterno...
E assim vou vivendo
Os contratempos
No caminho do meio
E quando, enfim
Três ponteiros, relógio,
Vir matar meu tempo
Um descanso vou ter
Pra ler meus versos
Sem ponteiros, relógios,
Seus perversos!
E ouvir: já não há mais
Os tempos de relógio...
E ouvir: se declamar a paz...
E sim, talvez de mim
Um necrológio...