Eduardo Jorge do Nascimento
Olinda / PE

 

 

Desprezo


                     

Entre quadros, paredes e um gole de poesia
a boca amordaçada constrangia-se.
Aquela voz estremecida ecoava a exatidão da náusea,
faziam meia culpa nos olhares.
Um muro de pedra erguia-se entre eles,
era a distância entre duas vidas desconexas.
Repletos de sentimentos vis não faziam mais questão
um do outro, tampouco amor, tampouco prazer.

Renasciam em contos, restou a brisa quente.
Dormente as palavras salteavam pelo salão.
Pilhas de corpos sem alma, sem desejo, sem vida plena.
Sorriam e o peito entrecortado de dúvidas
saltava segundo a segundo.

Sussurros mordiam as bochechas laterais da boca alheia.
Colecionavam segredos.
Eram invernos intermináveis a cada dia.
Longas noites sem chover.

Profundo, a dobra do medo se espalhara afora o portão.
Pisoteavam lá fora, gritavam, eram vozes de agonia.
O cachorro latia sem complacência.
Era a iminência do fim.

 






Poema "Antologia de Poetas Brasileiros "-Volume 206
Maio de 2022

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