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Otaviano Maciel de Alencar Filho
Fortaleza / CE

 

A insistência do amor


O retorno às aulas, depois de um reconfortante período de férias, é sempre motivo de ansiedade para a maioria dos estudantes. O início do ano letivo traz consigo o prazer de poder encontrar os velhos amigos e conhecer novos colegas que vieram de outras salas ou mesmo de escolas diferentes.
O clima de descontração que reinava no pátio da entidade estudantil favorecia o bate papo alegre que, de costume, acontece antes de todos entrarem para as salas de aula.
Júlio, um garoto de quinze anos de idade, porém muito tímido, e que estava na oitava série, não costumava fazer parte das rodas de discussões que normalmente acontece entre os garotos de sua idade, preferia ficar isolado em um canto qualquer estudando ou lendo algum livro enquanto não soava a sineta indicativa do momento de ir para a sala.
Sua timidez não permitia que ele tivesse um grande círculo de amizade. Era um rapaz muito inteligente e prestativo. Na sala de aula ficava sempre na “sua” e só falava quando era perguntado sobre alguma coisa pela professora.
Certa vez, durante o recreio, Júlio percebeu uma garota estava olhando para ele de um jeito estranho: sorria e não se cansava de ficar ali, de prontidão, feito um monumento. Como não tinha coragem de ir até a garota e conversar, fazia de conta que nada estava acontecendo e desviava o olhar. Essa situação passou a ser recorrente todos os dias.
Júlio, então procurou se informar com seus colegas de classe sobre quem era aquela menina e descobriu que ela fazia a quarta série. Depois ficou sabendo, através de uma colega de sala, que ela se chamava Sônia e que tinha doze anos e havia sido transferida do turno da manhã para o turno da tarde, pois estava repetindo o ano e não se adequava ao período matutino.
Sônia era uma bela garota, talvez a mais bonita da escola. Morena de cor clara, sorriso farto, lindas pernas e um andar que “desconcertava” qualquer garoto de sua idade.  Já havia ganhado um concurso de miss promovido pela escola no ano anterior.
Acontece que a situação foi ficando cada vez mais vexatória para Júlio, pois a garota estava apaixonada por ele a tal ponto de ausentar-se de sua sala de aula para ir até a dele. Ficava encostada na porta feito uma estátua, em estado de êxtase, olhando para ele. Os alunos e a professora passaram a desconfiar e, a professora, por sua vez, passou a expulsar a menina para sua sala de aula, e os alunos começaram a “tirar onda” com ele.
Seus colegas de sala diziam:
- Cara se fosse comigo eu não dava mole, não. Uma mina dessas, bonita e “gostosa”, eu não deixava escapar!
Júlio, por sua vez, dizia:
- Vocês estão doidos, ela é uma piveta. Sai dessa!
No mês de Junho, pela passagem das festividades juninas, a escola promoveu um arraiá com quadrilha improvisada. Muitos alunos participaram.  Sônia, então, aproximou-se de Júlio e o convidou para formarem um par para poderem participar da brincadeira. Júlio, a princípio, ficou relutante, mas terminou aceitando o convite. A alegria de Sônia era vista estampada em seu semblante. Ela estava linda: trajava um vestido colorido de saia rodada, fitas coloridas nos cabelos e uma maquiagem impecável.
Durante a apresentação, que ocorreu por volta das seis horas da noite, no momento do passe “passeio dos namorados”, Sônia segurou Júlio pela cintura e deu-lhe um beijo no rosto, deixando uma marca de batom vermelho. Neste momento Júlio não pensou duas vezes e retribuiu-lhe o afeto com outro beijo.
Terminada a apresentação os dois foram para um local afastado da multidão, sentaram em uma calçada e ficaram conversando, tomando aluá com bolo de milho. Sônia quis saber por que ele não “dava a mínima para ela” durante todo esse tempo em que ela ficava “dando em cima dele”. Júlio, esforçando-se para vencer a timidez, respondeu que era o seu jeito de ser: Assim mesmo, calado! Sônia abraçou-o novamente e, deitando-se sobre suas pernas, passou a contemplar as estrelas que cintilavam no céu azulado. Desde então, os dois passaram a viverem bons momentos juntos.

 
 
Poema publicado no livro "Os mais belos Contos de Amor" - Outubro de 2016