Maria José Zanini Tauil
Rio de Janeiro / RJ

 

 

Julieta do século XXI

 

Cupido flecha  o coração, sem hora certa ou ocasião. Rafaela  se encantou com aquele rapazinho tão jovem, que beijava a sua mão, dava-lhe flores em cada mês de aniversário de namoro e que para namorá-la, quis falar com seu pai, em pleno século XXI.  Lucas era carinhoso, ciumento, muito estudioso (aluno graduado do Colégio Militar, onde ela também estudava).

Ele foi o grande incentivo, pois para não passar por aluna medíocre, daquelas que só passam raspando na nota que precisa,  ela esmerou-se nos estudos, passou a tirar ótimas  notas.Era como se competisse com o amado, no bom sentido. Queria se igualar,  estudar junto, pensar  e resolver questões no mesmo nível de entendimento.

Terminaram o primeiro grau. Formatura juntos, baile no Monte Líbano. Ela,exuberante, num vaporoso vestido vermelho, ele, num elegante terno, com gravata borboleta na cor do vestido da amada. Rafa  não sorria só pelos lábios, seus olhos castanhos bailavam de felicidade, nos braços do príncipe encantado.

No ano seguinte, segundo grau. Ele da cavalaria, ela das comunicações. Entrada, recreio e saída sempre juntos, sempre  alegres, alimentando com beijos  aquele sentimento  e  sentindo-o amadurecer e se tornar, para eles, o maior amor. Quando não estavam juntos, eram as intermináveis conversas pelo celular, madrugadas a  dentro. Algumas briguinhas aconteciam
 por  ciúme, mas nada sério, pois tinham certeza do sentimento um do outro.

Um dia, tiveram um desentendimento e ele passou mal.  A mãe teve que buscá-lo na festa onde se divertiam. Rafaela  deu-lhe um gelo e evitava o contato pelo celular por um dia. Era uma espécie de castigo, na certeza de que tudo acabaria bem, pois o amor sempre vence.

Cerca de uma semana depois, Lucas chamou-a para conversarem. Propôs o término do namoro. Seu padrasto era pastor evangélico e não via o namoro com uma católica com bons olhos. Jurou que a amava e estava sofrendo, mas a mãe insistiu para que ele  desse aquele presente ao homem que fez o papel de grande pai na sua vida, pois ele estava muito mal, doente em estado terminal.

Rafaela chorou...Rafaela ainda chora. Cada vez que seus olhos se encontram há uma promessa velada, um “eu te amo” emudecido. Passou a ter  gastrite e insônia, resquícios da perda, da derrota não digerida. Isolou-se dos amigos, mas queria curtir a sua dor. Para ela, o amor é mágico e, mesmo sofrendo, melhor amar que ter o coração vazio.

Seu coração...  um jardim onde plantou cada flor que ele lhe deu. Continua cultivando-o,   embora surja sempre tiriricas querendo  sufocar suas flores. Arranca tudo que tenta abafar  esse  amor. Espero que ela volte a dormir melhor. Boas noites de sono são importantes na construção de uma mulher mais feliz.

Sugiro que Rafaela replante o seu jardim. Dê preferência  a flores de pequeno porte e que cerque- as com arbustos que se prestem como fiéis guardiões. Eles impedirão que os cães venham pisar sobre as flores mais frágeis. Ficarão mais protegidas dos que não sabem amar   os  jardim cultivados nos corações dos jovens  que  amam pela primeira vez.

 

 

 
 
Poema publicado no livro "Livro de Ouro do Conto Brasileiro Contemporâneo" - Setembro de 2017