Denise Pinheiro Mourão
Belém / PA

 

 

Zé das Correntinhas

 

           

Existia na Vila da Barca, um morador, homem muito trabalhador e amigo de todos. Era seu Zé, pescador de profissão, seguindo a vocação da família. Somente uma pessoa não gostava de Zé, era Analinda, filha do Zé Botão (Amâncio) menina bonita, mas sem nenhum respeito com ninguém. Era uma implicância desde criança.
Todos cortejavam a moça, e ela ia colecionando namorados.E quando Zé Pescador, passava e piscava para ela, a mesma cuspia, e desfazia dele:
-Sai pra lá, fedorento! Credo!
Mas por pior que fosse a desfeita, Zé não desistia, deixava açaí, peixe frito, pupunha na venda do Zé Botão, que trabalhava no bar do Machão. E ela nem aí para os presentes do mesmo.
Acontece que os anos iam passando e Analinda não conseguia se casar, e todo dias os xavecos dos seus pais a atormentavam para ela a parar de estudar já que ela não queria trabalhar de doméstica. Todo o dia era o mesmo lenga- lenga:
-Tu vais ficar até quando nesta boa vida!
-Maninha, te mexe!
-Vai atrás, de alguém pra te sustentar, sua abestada!
Analinda, chorava e pedia um marido em novena à nossa senhora do Perpétuo Socorro. Todas as suas amigas, estavam casadas, e analinda servia de chacota, eram muitos apelidos e impropérios; encalhada, vai ficar pra titia!
Eis que surge uma solução, o seu pretendente Zé Pescador, ganha um prêmio na loteria, mais ou menos uns cinquenta mil, e que nem suportava olhar o Zé Pescador, de repente, passou a morrer de amores por ele.
O casamento foi marcado às pressas, Dona Florência, a costureira da Rodovia Arthur Bernardes, foi chamada para fazer um vestido todo de renda a pedido da noiva. Zé Pescador, estava feliz, e gabava-se nas rodadas de cerveja; "Eu tenho sorte no jogo e no amor!"
Casaram-se, e na primeira viagem de Zé Pescador, sua esposa o traiu com Zé dos Porcos. E cheia de remorso e peso na consciência, fez o peixe mapará pra ele, e ofertou-lhe uma correntinha de outro com desenho de um porco. E assim seguiu-se a sina de Zé Pescador, que a cada viagem ganhava uma correntinha com um desenho diferente; um ônibus, um pão, uma carta, etc...
E Zé Pescador, ficou conhecido como Zé das Correntinhas, nunca mais ganhou na loteria, mas ficou com seu amor.  A pergunta que os moradores se faziam na época era: "Será que foi falta de sorte no jogo, ou falta de sorte no amor?"

 

 

 

 

 

 

 
 
Poema publicado no livro Os mais belos Contos de amor - Edição 2019 - Setembro de 2019