Ilse Maria Paulino Gomes
Canelinha / SC

 

 

Natais de outros tempos

(Dissertação poética)


              Estamos em dezembro. Mais um Natal aproxima-se e infelizmente, não se ouvem mais o chirriar de cigarras, tampouco as melodias natalinas, tristes, porém tão belas que fluíam dos alto-falantes da antiga igrejinha de madeira ali às margens da Estrada Geral, atual Avenida Cantório Florentino da Silva.  
              Lembro com grande saudade daqueles cones de cor cinza no alto, junto à cumeeira da igreja de Santa Ana, embalando a cidadezinha com a trilha sonora cujas músicas falavam de sinos de Belém, do Menino que trazia a felicidade em forma de brinquedos. O Presépio, armado do lado direito do altar do qual era separado por uma espécie de cerquinha com um degrau sobre o qual dobrávamos os joelhos para recebermos a Eucaristia.  Era ali, naquele cenário mágico que o Menino Jesus vinha ao mundo, reacendendo nossas esperanças. A rua principal, precariamente iluminada, recebia presépios estilizados, com a Sagrada Família abrigada numa choupana de casqueiros, coberta com folhas de coqueiro ou palmeira. Do vértice do “telhado”, descia um anjo, meio enredado na barba-de-velho e pelos minúsculos gravatás com inflorescências cor-de-rosa, num contraste curioso. 
               O comércio, incipiente, exibia ainda que timidamente, alguma decoração referente à data. Eram tempos de afirmação da cidade e tudo era copiado ou imitado de outros lugares mais desenvolvidos. As árvores das frentes das casas ou das ruas ganhavam uma safra extra de frutos luminosos, na forma de lâmpadas coloridas que as deixavam realmente bonitas. Os atuais e tão prosaicos pisca-piscas só adornavam as fachadas das residências mais abastadas. 
              Na sala destas, um pinheiro artificial recebia bolas coloridas e brilhantes. Nas extremidades das árvores, pequenos castiçais com velinhas brancas eram “grampeados”. Acendiam-se as velinhas  apenas na Noite de Natal, pois a reposição das mesmas tornava-se bastante dispendiosa, uma vez que apenas o comércio das grandes cidades oferecia tais produtos. Havia também pingentes retorcidos que brilhavam a qualquer movimento; “os cabelos de anjo” consistiam em filamentos prateados que se estendiam ao longo dos ramos do pinheiro.   Por muito tempo, os pequenos castiçais grampeados nas pontas do pinheiro exerceram um fascínio enorme sobre minha imaginação de menina pobre, encantada com a decoração de Natal que via na casa de minha tia Lali, em Curitibanos, onde morávamos. 
            As casas mais humildes, como a nossa, reverenciavam o nascimento de Jesus com bolinhas coloridas ou com desenhos recortados em papelão e salpicados com “areia de brilho”, feita com os caquinhos das bolas de vidro que, acidentalmente, se quebravam e eram trituradas sob a pressão do rolo de macarrão. Estes “enfeites” eram pendurados numa árvore que tanto podia ser um pinheiro já cansado de outros natais, quanto qualquer galho ou ramo que se prestasse para tal. Ali também cabiam os trabalhos manuais, realizados na escola para este fim.  Guardo na lembrança um sino, feito a partir de uma palha de aço nova que, depois de aberta e ter as bordas enroladas com algodão e uma bolinha presa no alto, fazendo as vezes de badalo, transformava-se num enfeite de porta. 
            Houve um tempo, muito depois, em que se confeccionavam “velas” com cartolina e revestiam-nas com papel laminado. Colava-se o artefato numa base de papelão e, para servir de “chama”, havia uns pingentes com as cores vermelha, amarela ou laranja. Este ornamento era próprio para a mesa da sala ou para um aparador. Mais tarde, numa fase mais minimalista, talvez por influência do movimento hippie, as árvores de Natal passaram por uma grande transformação. Os pinheiros consistiam num ramo de silva, cujos espinhos serviam de suporte para espetarem-se pipocas. E, para imitar a neve do Hemisfério Norte, nesta época do ano, chumaços de algodão pendiam dos braços da “árvore”.  
         Quantas saudades eu tenho da doce ingenuidade que marcou os Natais de minha infância! 

 

 




Poema publicado no Livro "Os mais belos Poemas de Natal"- Edição 2021
Fevereiro de 2022

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