Renato Lacerda Isquierdo
Guaíba / RS

Que eu fique

Que eu fique em tudo que vivi, nas ruas por onde andei.
Nas casas onde morei; nos quartos, nas salas... nas poltronas.
Nos livros que li e também naqueles que poderia ter lido.
Que eu fique nos filmes, nas cores, nas imagens.
Que eu fique nas flores que toquei, nas roupas que vesti.
Nas incertezas que me assustaram, nas promessas que fiz
e nas mentiras que alguém me contou.
Que eu fique nas pessoas que amei e também naquelas que poderia ter amado.
Que eu fique nas mesas, nas cadeiras em que sentei;
nos bancos dos carros, das bicicletas,das igrejas.
Que eu esteja em cada boca que beijei, em cada pessoa que abracei
e também naquelas que gostaria, de um dia, ter abraçado.
Que eu fique para sempre gravado em uma canção,
registrado em uma bela palavra.
Que eu seja redescoberto em uma lágrima de saudade
ou em um sorriso de esperança...
Em uma pequena lembrança no álbum de fotografias.
Que eu fique eterno em tudo que vivi, em tudo que sonhei
e em tudo que poderia ter feito.
Nas molduras dos quadros, nos objetos,
nas cortinas, nas paredes, nos relógios.
Que eu não seja esquecido nas cartas de amor, nas conversas entre amigos,
nos passeios de domingo à tarde com a família.
Que eu fique guardado em cada lembrança, em cada momento...
Para que, no final,
eu seja, para quem quiser ler a minha história,
um livro aberto de poemas.