Romilton Batista de Oliveira
Itabuna / BA

 

 

Restos residuais

 

Cansei dos ditos e não ditos discursos
Da política da contradição
Do pensamento da contramão
Da repetição e da pulsão castrada da dissimulação...

Cansei das palavras que se contradizem
Da desordem do discurso dos corruptos
Da insanidade visível televisionada e assistida
Da pesada agonia dos que sofrem como telespectador
Dos repetidos abusos do poder que sangra um a um
No desumano e impiedoso sistema da podridão
Que se tornou os três poderes da desorganização...

Cansei dos partidos partidos
Dos indivíduos divididos
Da terra ferida por bichos desfigurados
Cansei.
Cansei de tudo e de todos...
Dos criminosos heróis e dos heróis aprisionados
Da massa alienada a defender o desastre da escritura
Na estrangulada passividade que bem soube escrever o francês Blanchot
Quando amargurado e cansado recorria à escrita
Para repousar seus desencantos, puros escarpes de restos residuais
Restos residuais que por meio de algo que chamamos de “esperança”
Recupera a humanidade ferida.

(Ao amigo Franklin que faz da vida uma melodia vivida)

 

 
 
Poema publicado no livro "Os mais belos Poemas de Amor" - Setembro de 2017