Rosemary Gobbo Duarte
Campinas / SP

 

 

Amor em dose dupla



            

            Quando resolvemos, eu e meu marido, passar uns tempos lá pelos lados do vale verde em Minas Gerais, aos pés da Mantiqueira, conhecemos um casal que estava se preparando para deixar aquela região, por conta de suas atividades profissionais e irrecusável proposta de trabalho em outro Estado, oferecida naquela oportunidade.
            Sem condições de ficarem com as duas cadelinhas que já faziam parte da família, pediram nossa ajuda no sentido de dar um lar a uma delas, pois teriam que fazer uma longa viagem aérea, por ocasião da mudança e seria quase impossível realizá-la com três filhos menores, as duas cadelinhas e as inadequadas condições (ainda) de moradia no novo endereço.
            Por amor aos animais e especialmente aos cães, prontamente nos colocamos à disposição do casal para adotar uma delas, ainda que não estivesse em nossos planos, naquele momento de nossas vidas.
            E lá estávamos nós visitando o casal amigo, para um primeiro contato com a “menina” que esperávamos fosse bem receptiva, conforme já nos adiantara o casal. Mel e Miúda, como eram chamadas as “meninas-irmãs”, eram muito meigas, tranquilas e como o próprio nome já diz, Miúda era menorzinha-miudinha e aparentemente mais carente, com ar tristonho; já a Mel, de porte maior, esperta, nem esperou muito para começar a correr, brincar e mostrar suas habilidades caninas.
            Após as apresentações, surge o grande problema: como optar por uma delas, como se fosse um mero objeto, sem levar em conta a convivência harmoniosa das duas irmãs que nunca se separaram? O casal não havia refletido sobre isso ainda, pois a urgência no preparo de documentações e outras demandas exigidas para a mudança, tomaram todo tempo deles até então...
            Foi então que tomei uma atitude, encantada como já me sentia com as duas “meninas”:
            - Se não se importarem e confiarem na nossa dedicação, a partir de hoje as duas farão parte da nossa família - questionei o casal.
            Com a anuência já espontânea de meu marido, e a indiscutível confiança em nós que o casal refletira, a adoção foi imediata, e para nossa surpresa, tanto deles quanto a nossa, Mel e Miúda, parecendo entender o que se passava durante a conversa, pularam em cima de nós a “lambeijar-nos”, como que aprovando nossa decisão, e demonstrando imensa alegria.
Mel e Miúda fazem parte da nossa história... e com elas, aprendemos todos os dias, o verdadeiro sentido do amor incondicional. 

 


 




Conto publicado no livro: "Casos de amor (e lambanças)"- Edição 2021
Janeiro de 2022

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