Antonio Ayrton Pereira da Silva
São Paulo / SP

 

 

Três e pouco


          

         

           Não era noite, nem dia, três e pouco esperando as quatro, ou a madrugada esperando a manhã.  Estava ali, olhando as estrelas, uma "meia-lua", esperava o tempo passar.
           O frio cortava, mas, não doía, era um toque suave, doce igual as lágrimas de uma saudade. O céu estava no azul mesclado de claro escuro com o branco tingidos de lilás. O exausto sono era despertado por algumas gotas que mergulhavam em minha face, absorvendo o calor, regando a pele, umedecendo-a, e o cansaço de pedir sono desaparece. Não estava ali como escritor, poeta, ou mesmo tentando conversar com o infinito ou estrelas, apenas estava como um homem, um pouco louco em pensamentos, de não poder ter dito antes de uma antiga manhã ou tarde ou noite o que sentia, o que não pode mais falar, o que ainda vem forte...
           Só pensamentos no mudo. Em cima de um mundo silencioso sem fim, em baixo um abismo de quatro metros e um fim de chão duro. Sem perceber o tempo passou, o Sol começava a sair, mas junto vinha uma névoa andando devagar, caminhando em passos lentos em minha direção e foi tomando conta, tomando conta ..., mas ela nunca chegava perto de mim.
           A névoa mesclava com raios do Sol criando arco-íris. Uma linda pintura. E absorvendo esse quadro, sem eu perceber, a “meia-lua” se foi ...
           Agora estou esperando chegar de novo: três e pouco.
Sou louco? Acho que não. Só quero ver a “meia-lua” de novo.

 


 




Conto publicado no livro: "Casos de amor (e lambanças)"- Edição 2021
Janeiro de 2022

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