Teresa Cristina Cerqueira de Sousa
Piracuruca / PI

 

As formigas guerreiras e a árvore embiratanha

 

            

Certa tarde, umas formigas guerreiras em suas viagens à procura de alimento, caminhando já de volta para casa, encontraram um pequeno grupo de outra colônia.
- Oba, comida!, disseram em coro.
Ao tentar levarem-nas para o formigueiro foram atacadas. Na verdade, tinham encontrado uma espécie de formigas também predadoras. Houve uma terrível batalha e as formigas guerreiras, sentindo-se já em menor grupo, e todas feridas, fugiram (certas de que era o único meio de salvarem-se).
Essas formigas, desde pequenas, foram acostumadas a se apoiarem umas nas outras, assim, conseguiram chegar até, pelo cair da noite, aos pés de uma árvore. A planta tinha o tronco largo, com casca rugosa e verde.
Ah, o chão era macio e convidativo! E como o corpo delas pedia por um lugar assim...
De tão feridas, ficaram sem poder procurar alimento, desse modo, comeram das raízes da árvore. 
- Mas é muito gostosa! - disseram algumas delas, com a boca cheia...
Realmente, estavam comendo de uma árvore da caatinga muito conhecida pelo nome de embiratanha e que, segundo crenças populares do interior do Piauí, tinha raízes comestíveis e com o sumo da entrecasca de seu tronco com poderes medicinais.
E como ao frescor da noite se juntou o aconchego do largo tronco, as formigas enroscaram-se na entrecasca deste e dormiram. O sono foi cheio de numerosas batalhas, mas havia um suco suave correndo pelo corpo e, ao final, as dores foram passando, passando... E agora havia outra vez um sono bom...
Quando acordaram aos primeiros raios do sol interrogaram-se: “Como estavam com as cicatrizes da batalha todas saradas?” E o mais curioso é que o corpo parecia renovado, com uma energia de quem está em perfeito estado de saúde.
Uma delas completou os pensamentos de todas.
­- Esta árvore tem poderes mágicos! - acrescentou com um gesto bem estudado de uma das patas indicando o tronco largo e verde.
Não questionaram a afirmação; fizeram apenas um gesto com a cabeça como quem encontra uma casa apropriada para morar. Sim... sim, tinham um local perfeito para passarem invernos e verões. Em se tratando de suprir as necessidades do formigueiro, a árvore embiratanha se encarregaria até de curar-lhes as feridas e dores.
E foi uma mudança natural: as formigas ainda estão por lá (creio que os descendentes delas), embora passados alguns anos –; e a árvore, também acredito, ouve o nascimento de novas formigas, em que a rainha se encarrega de dormir todos os dias no largo tronco rugoso e verde da embiratanha em que toda a colônia sempre tem sonhos de uma numerosa e organizada família...

 

 

 

 

 
 
Poema publicado no livro "Casos da Meia-noite" - Edição 2019 - Novembro de 2019