Helena Maria S. Matos Ferreira
Guapimirim / RJ

 

 

Folhagens e bananeiras

 

            

Dois jovens vinham de um baile da roça. De madrugada, cansados, mas alegres, conversavam, distraídos. A noite era de lua cheia. A estrada era de chão, ladeada por folhagens e bananeiras que refletiam os raios de luar. O único barulho que cortava o silêncio era o pio de uma coruja e o eco que as botinas dos rapazes faziam enquanto eles caminhavam.
De repente, o mato se mexeu e uma respiração muito forte se fez ouvir. Os jovens pararam para ver o que era, mas a vegetação começou a se movimentar e algo parecia correr e bufar.
Zeca e Joca olharam um para o outro, os olhos arregalados e sem nenhum acordo começaram a correr. “Ai, minha Nossa Senhora, valei-me!”, gritou Joca. “Socorro!”, gritou Zeca. E correram mais um bom estirão. E por entre as bananeiras e as folhagens aquela “coisa” também corria e bufava.
“É uma assombração!” Gritou Joca. “Deveras”, falou Zeca.
Mas depois tudo silenciou novamente e eles pararam ofegantes e assustados sentaram-se à beira do caminho. O dia já estava amanhecendo. Um grupo de moças e de rapazes surgiu, cantando e conversando. Quando chegaram perto de Zeca e de Joca e os cumprimentaram, observaram a aparência desconsertada dos dois e quiseram saber o porquê de eles estarem assim, tão estranhos. Então relataram o acontecido. O grupo começou a rir e a zombar deles, pois eles haviam se assustado e corrido de um pobre pangaré. O animal soltara-se da cocheira de seu dono e estava perdido no meio do mato. Os raios de luar passando por entre as folhas das bananeiras, desenhando luzes e sombras, juntamente com a respiração do velho cavalo, deu aos dois rapazes a impressão de que algo fantástico e assombroso estivesse acontecendo.
Muitas assombrações são, na maioria das vezes, simples produtos de nossa imaginação e dos nossos medos.

 

 

 

 

 
 
Poema publicado no livro "Casos da Meia-noite" - Edição 2019 - Novembro de 2019