Ravena Fontenele Alves da Silva
Águas Claras / DF

 

 

Setealém

                

                

Esse é um relato baseado na história de Teresa Salt, uma jovem de 19 anos. Tudo começou quando ela mudou de casa com sua família. O sobrado antigo fazia barulhos realmente assustadores, "parecem ruídos metálicos misturados com passos", era assim que Teresa descrevia os sons para sua mãe todas as manhãs antes de ir para escola. A nova vizinhança não era nada aconchegante, todos os vizinhos a olhavam estranho, cochichavam entre si quando passavam em frente a casa e saiam com as caras fechadas, mas dá pra viver com isso.
Era uma madrugada de sexta-feira, Teresa se revirava na cama sem pegar no sono. A chuva que caia em sua janela começou a se transformar em tempestade. Ela levantou-se da cama e olhou no relógio, eram duas da manhã, seu sono desapareceu por completo.
Ela sentou-se na cadeira e observou os relâmpagos horripilantes caírem sobre a terra, mas o que mais a assustava eram os sons do trovão. Teresa estava distraída quando de repente sentiu uma corrente de ar frio tomar conta do ambiente. Ela começou a ouvir sons de tambores e sussurros que pareciam vir do quarto ao lado, no caso, o cômodo de sua mãe. A jovem levantou temerosa e foi andando até o local, ela percebeu que uma luz emanava do quarto de sua mãe, Teresa abriu a porta com delicadeza, mas a madeira velha rangeu, ecoando o barulho por todo o sobrado. Ela olhou para dentro do quarto, as luzes desligadas, nenhum som estranho. A sua mãe dormia tranquilamente na cama, o que a deixou muito desconfortável, não havia nada que indicasse que mais de uma pessoa estivesse ali, seu pai viajara a negócios.
"Tudo isso é sua imaginação!", falou para si mesma.
Retornou ao seu quarto apressadamente. Fechou a porta e a trancou. Teresa fechou os olhos sentiu seu coração acelerado, sua respiração ofegante, um zumbido altíssimo começou a ecoar pelo ar, mas foi dissipando aos poucos, ela abriu os olhos. Por que o fez? Seu quarto havia se transformado num verdadeiro hospício abandonado, frio, cinza, cheio de teias de aranha, insetos mortos caídos pelo chão e um cheiro desagradável de carne podre. Havia uma silhueta desconhecida sentada no chão perto da janela, balançando para frente e para trás. Teresa ficou paralisada de medo, só pode sentir a temperatura de seu corpo abaixando, seus olhos estavam fixados na criatura misteriosa. O velho levantou-se pausadamente, parecendo ter dificuldade de realizar essa ação. O ambiente ficou mais escuro, o clima ficou mais pesado. A pequena incidência da luz da lua bateu no rosto do homem, que refletiu um olhar morto, maligno.
-Você foi uma menina muito má! - disse o cara com a voz rouca e trêmula mostrando seus dentes quebrados. - Você não irá para o jardim azul! Você está em Setealém e não poderá sair até falar para sua mãe que você está bem! – ele ria incansavelmente.
Aterrorizada ela começou a gritar, nenhum som saia de sua boca, era um pesadelo, ela chamava, clamava por sua mãe e nada. Ela fechou os olhos com força, e quando voltou a abri-los o velho desaparecerá, mas o quarto continuava cinza e afrontador. Teresa conseguiu recuperar o controle de seu corpo, e sua primeira ação foi pensar em sair da casa e pedir ajuda. Teresa destrancou a porta, saiu correndo e descendo as escadas, indo para a sala, mas tropeçou, caindo com a cabeça no chão. Ao recuperar a consciência, se deparou com muitas crianças em pé com panos brancos cobrindo seus corpos, ela soltou um grito em sua mente; aquilo era bizarro, sombrio. As palavras do velho ecoaram em sua mente. “Preciso me comunicar com minha mãe!”, refletiu ela. Uma criança veio até ela e o pano que cobria seu corpo caiu, seus olhos eram negros e seu rosto desfigurado, aquele ser entregou para Teresa um telefone com o número de celular da sua mãe já discado e chamando.
- Alô? - ela ouviu a voz calma e suave de sua mãe, por um segundo sentiu alivio.
- Mãe!...- (interferências na linha) - Eu estou bem! Eu estou bem! - exclamou ela já aos prantos.
A ligação caiu. O menino deu um sorriso maléfico e falou “dê um oi para Amy por mim”. Ele começou a ataca-la e todas as crianças fizeram o mesmo, ela gritava por socorro, até que ela levou uma paulada na cabeça e desmaiou. Quando acordou, Teresa estava deitada em sua cama no mundo normal, seu quarto voltará a ser o mesmo, cheio de cores e vida. Ela levantou temerosa e correu para a sala para verificar se tudo estava tranquilo. A jovem avistou  sua irmã mais nova sentada no chão brincando com um gato sujo preto.
- Olha Teresa! Mamãe encontrou esse gato na rua! Vou por o nome dela de Amy!
A mãe dela estava no sofá sorrindo para o animalzinho quando seu celular tocou. Ela atendeu, seu semblante mudou se transformou num olhar preocupante. A mãe de Teresa colocou a ligação no viva-voz:
- Mãe! ... Eu estou bem! Eu estou bem! – a voz era de Teresa.
Qualquer um pode ir parar lá, no lugar no qual nem eu ouso pronunciar. Crianças e adultos sejam bonzinhos, pois ao som da batida do tambor você pode ser enviado para seu pior pesadelo.
Atenciosamente, Seth.

 

 

 

 
 
Publicado no Livro "Contos de Arrepiar" - Edição 2019 - Maio de 2019