Angélica Matos Ferreira
Guapimirim / RJ

 

 

Coração rejuntado

                

                

         

Andei fazendo arte com rejunte, aquela massa que se usa em obras para juntar peças de azulejo, como se estivesse juntando um quebra-cabeça.
Tentei fazer um mosaico. Quebrei disquetes velhos, inúteis para os dias de hoje, e os cortei em vários pedaços. Machuquei minhas mãos, fiquei em carne viva, sangrei, chorei. Fiz a massa para juntar os cacos dos disquetes com rejunte, água e lágrimas.
Comecei então minha arte tentando juntar os pedaços, mas não muito, pois a massa precisa de espaços para fazer seu efeito. Uma vez que a peça se quebra, não se junta totalmente. Esse é o bonito do mosaico. Uma peça quebrada pode se tornar uma outra, carregando nela suas antigas histórias. Dos disquetes quebrados surgiu um coração rejuntado. Pedaços rejuntados de um coração.
Talvez seja assim que eu esteja: rejuntando meus pedaços, desfragmentando minhas dores, decepções e tentando juntar os cacos para renascer e seguir.

 

 
 
Publicado no Livro "Contos de Arrepiar" - Edição 2019 - Maio de 2019