Helena Maria S. Matos Ferreira
Guapimirim / RJ

 

 

Tempo de lembranças

 

 

Era uma linda tarde do mês de dezembro dos idos de mil novecentos e setenta e poucos. Os alunos da sexta série da Escola Técnica de Comércio São Caetano faziam a sua confraternização de término de ano.
Todos estavam muito felizes: danças, amigo oculto, salgadinhos, bolos, refrescos.
Vários professores estavam presentes, inclusive eu (Helena) e a Professora Ana Maria Quinan.
Vale dizer que esta Escola ficava no centro da Praça Dr. Orlando de Barros Pimentel, a Praça da Prefeitura de Maricá e da Igreja de N. Sra do Amparo, majestosa, belíssima.
A Prefeitura hoje tombada, prédio antigo, imponente, com a cadeia na parte debaixo, cujos presos podiam ver por entre as grades todo o movimento dos estudantes que por ali transitavam. Na parte de cima havia um grande salão; palco de julgamento dos prisioneiros e de todas as solenidades importantes do município. Saudades!
Voltemos ao nosso foco que é a festa de final de ano. Mas antes não resisto à descrição do Colégio. Ele era um casarão comprido e muito antigo, com um varandão que acompanhava todas as salas, inclusive a secretaria e a diretoria, estrategicamente no centro, em frente a única saída. As telhas de cerâmica ficavam à vista. Não havia forro e as andorinhas davam pequenos voos rasantes sobre nossas cabeças. Muitas árvores pareciam ser cúmplices dos colegiais com seus namoricos, sonhos e estudos; sentados nos bancos da praça.
Neste dia, todas as turmas já haviam terminado suas festividades e com a maioria dos professores tinham ido embora.
Mas a sexta série resolvera “esticar” um pouco mais. A tarde quente e ensolarada convidava para um pouco mais de diversão. Ana Maria e eu não podíamos deixá-los, éramos as responsáveis.
De repente, ouviu-se um trovão ao longe. Mais um tempo e outro bem mais próximo.
A Professora Ana Maria que já tinha um pouco mais de idade e por isso mais experiência, falou-me: _ “Helena, vamos colocar essa garotada para casa. Vem muita chuva por aí.” Eu concordei e pedimos que guardassem seus pertences e arrumassem as carteiras bem depressa. Despedimo-nos e fomos todos para casa. Ana Maria estava certa. Caiu uma forte chuva, acompanhada de ventos, raios e trovões, uns quarenta minutos depois. Já estávamos então em nossas casas.
O que aconteceu durante o temporal só tomamos conhecimento no dia seguinte, uma imensa árvore caíra sobre a sala em que estivéramos reunidos com mais de quarenta e cinco jovens. O telhado foi ao chão; a sala ficou destruída completamente. Se tivéssemos continuado na Escola, viveríamos uma grande tragédia e talvez nem estivesse agora contando esse fato.
Com toda a certeza, o Espírito Santo soprou no ouvido da Professora Ana Maria que era hora de terminar a festa e também suscitou em mim e nos alunos a obediência, para que todos nós fôssemos salvos.
A praça continua linda, mas a antiga e querida Escola foi demolida, ficando somente a lembrança de momentos bons e especiais vividos naqueles tempos saudosos.

 


 

 

 

 
 
Poema publicado no livro "Contos ardentes" - Edição 2019 - dezembro de 2019