Lourdes de Oliveira Silva
Capanema / PA

 

As garrafadas do Ermenegildo

                

 

         

        Vindo dos Cafundós de Judas, um belo dia chegou em Macapá um rapaz dizendo que nasceu e cresceu na beira do Rio Moia, braço do Rio Curumu, que desemboca no Rio Jacaré Grande, município de Breves, tinha apenas vinte anos, sem experiência, mas precisando trabalhar para sobreviver, conseguiu ser lavador de carros em um Lava Jato, e depois de algum tempo, Vendedor de Crediário, Vendedor de Armarinho, e por último Vendedor de Linguiça nas ruas. Até que um dia ficou sem trabalho.  Mas precisava ganhar dinheiro, não sobreviveria naquela cidade grande, pois nem parentes tinha ali. Partiu, então, para as ruas outra vez, como todo mundo faz. Foi quando conheceu dona Maria de Fátima, que já havia morado em Belém, bem casada, com dois filhos lindos, mas por algum motivo foi abandonada pelo marido. Nessa ida e vinda do destinho, acabou conhecendo Ermenegildo, caboclo ribeirinho, desengonçado, com seus 125 quilos bem pesados. Mas mesmo assim dona Maria de Fátima endoideceu pelo caboclo e não teve jeito.  Namoraram, namoraram e um belo dia uniram as escovas, e passados alguns dias ela plagiou Drummond:
   – E agora José... o que é que vamos fazer?
   – José não, Ermenegildo, meu nome é Ermenegildo.
   – Pois bem Ermenegildo, o que vamos inventar para sobreviver?
   – Ora, dona Fulustrequinha, eu vou arrumar um emprego, ou você pensa que não sei fazer nada?
   – Então mãos à obra, homem.
Ermenegildo saiu em busca de emprego e não é que conseguiu em uma casa de material de construção! Trabalhou como vendedor por alguns anos mas um dia resolveu mudar de residência, ou seja, para outro estado.
Ermenegildo mudou para uma cidade no interior do Estado do Pará, de imediato não conseguiu emprego, então resolveu comprar garrafadas e vender para sobreviver.
      Um belo dia conheceu um rapaz chamado Baiano que já tinha trabalhado no Laboratório São Lucas e percebendo que Ermenegildo já vendia garrafadas perguntou:                                                                                
   –  Por que você não prepara suas garrafadas?
     Ele respondeu que não sabia como fazer, desconhecia a técnica de misturar as ervas para obter os resultados ansiados pelos fregueses.
  Baiano disse que ensinaria dando-lhe oportunidade de aprender a fazer -  e fazer bem feito, para não matar ninguém.
     Ermenegildo aceitou, e foi ao Ver-o-Peso onde comprou as ervas necessárias para o preparo das garrafadas: barbatimão, verônica, sucuuba, aroeira, jequitibá, jucá, confrei, sálvia, ipê roxo, copaíba e flor da catingueira. Com as ervas na mão Ermenegildo desenvolveu duas famosas garrafadas que fizeram muito sucesso na vida das pessoas que delas usaram, e até hoje ainda existem referências.
       As garrafadas produzidas foram: Saúde da Mulher e o Composto Antiflamatório.
       Saúde da Mulher é indicado para a jovem que quer engravidar e por algum motivo ainda não conseguiu. O dito cujo faz limpeza no útero e em todo o organismo da mulher, fazendo-a engravidar, para a alegria do papai e da mamãe.
       Fazer uso da beberagem Saúde da Mulher é tiro e queda.
       E segundo as pessoas mais velhas, era por conta das garrafadas que as mulheres  geravam muitos filhos.
         O composto antinflamatório é indicado para problemas de estômago, rins e próstata.
       Os homens que sentirem mal-estar em um desses órgãos podem tomar sem susto e com muita fé. O efeito é imediato.
       Ermenegildo ganhou bastante dinheiro e proporcionou alegria e felicidade a muita gente, produzindo e vendendo garrafadas ou beberagem, como queiram chamar. De um pobre coitado imigrante do Amapá, Ermenegido passou a ser louvado como "o Salvador" das almas tristonhas.

 

 

 
 
Publicado no Livro "Contos Livres" - Edição 2019 - Abril de 2019