Bianca Vieira
Muriaé / MG

 

 

Um amor, um acaso

 

           

                Era uma manhã de outono e sentada em um balanço de uma antiga pracinha Cecília observava as folhas das árvores caindo como se estivessem à procura de algo maior. Ela sempre enxergou aquilo como uma prova de amor das folhas pelas árvores, que se tornavam livres para aquecerem a si próprias e sobreviverem. Na verdade, o outono sempre fora a sua estação favorita, justamente pela sensibilidade que era despertada nas pessoas naquela época. Cecília sempre gostou de observar todas as formas de vida e questionava-se internamente se um dia alguém poderia amá-la da mesma forma que as folhas amam as suas árvores, pois em grande parte do seu tempo ela encontrava-se só ou sentindo-se assim.
                Neste mesmo instante e a alguns metros de distância, Raul estava aguardando no metrô enquanto ouvia a sua canção favorita: Mouvement Introductif, de   Yann Tiersen , ao piano. Diferente de Cecília, ele nunca gostou do outono simplesmente porque não sentia o seu coração aquecido e a estação o lembrava de que o inverno aproximava-se lentamente, pois como ela, sentia-se só. Ele sempre se perguntou se um dia poderia sentir-se finalmente aquecido pela presença de alguém, pois percebia que ao seu lado restava um lugar. 
                Os dois continuaram pensando em como seria sentirem-se amados um dia e não imaginavam que os seus corações poderiam estar à espera um do outro, pois eram dois jovens que apesar das diferentes formas de enxergarem o outono, permaneciam imersos em um oceano de solidão e desejos um pelo outro. 
                Aparentava ser apenas uma manhã de outono, mas para Cecília e Raul, aquele foi o desencontro de um primeiro encontro fatalmente aprisionado pelo destino de dois corações que um dia se amaram, mas que de tanto fugirem um do outro, aquele amor sublime deixou de ser um laço. 

 


 
 
Poema publicado no livro "Contos de Outono"- Edição Especial - Junho de 2017