Francisco Rodrigues Gonçalves
Orindiúva / SP

 

 

Sonho desfeito

 

           

 Era uma tarde de outono na pequena cidade de São José, cidade pacata onde todos eram conhecidos e conheciam de perto os problemas um do outro, sem a correria estressante das grandes cidades. Todos passavam tranquilos e se cumprimentavam:
- Bom dia, dona Maria!
- Bom dia, seu Zé!
Assim era a rotina da pequena cidade, de gente simples, trabalhadora e de muita fé.
Mas ,de repente ,numa tarde de verão apareceu uma pessoa desconhecida na cidade. Um homem mal vestido, barbas e cabelos longos, de comportamento inquieto, gesticulava e falava  muito, chamando a atenção da pacata população.
 Amélia ,nascida e criada em São José, logo se interessou por aquele. Então, logo quis se apresentar a ele e interrogá-lo.
- Boa tarde, meu nome é Amélia e sou daqui desta cidade.
- Boa tarde, me chamo Joaquim!
- De onde vens?
- Isso não importa muito – disse Joaquim.
...
Amélia estava a cada dia mais interessada por Joaquim, e ia se aproximando dele, aos poucos. Esse interesse tornou-se paixão e essa paixão tornou-se um namoro sério e polêmico. O pai de Amélia era completamente contrário ao namoro de Amélia com Joaquim, alegando que  Joaquim era mendigo, andarilho e vagabundo.
 Joaquim eram um intelectual de um gênio muito forte, não deixava nada passar despercebido. Numa de suas polêmicas, comprou briga com o prefeito da cidade. Um grupo de alunos de um colégio público fizera um quebra-quebra no colégio, o grupo político que apoiava o prefeito acusara Joaquim como mentor intelectual do grupo. Joaquim foi preso injustamente.
Mas Joaquim logo foi solto pois não encontraram provas contra ele, em liberdade Joaquim fez questão de dizer publicamente:
- Meus conhecimentos e meu temperamento não aceitam injustiças, mas jamais quebraria, incentivaria alguém ou um grupo de pessoas a fazer tal ato – destruir patrimônio público. As injustiças precisam ser denunciadas mas qualquer tipo de violência precisa ser evitada.
 Joaquim disse à Amélia que ao conhecera  seu pai que ele abandonou sua mãe quando ele era recém-nascido. Alguns anos depois ele foi criado por um padre que o criou como filho, ao completar a maioridade o padre o dou uma casa e um pequeno sítio. Durante alguns anos ele fora professor na cidade onde nascera, depois parou de lecionar sobrevivendo dos aluguéis dos imóveis, passando a viver de cidade em cidade.
Joaquim mostrou à Amélia seu registro de nascimento, dizendo:
- Aqui está o nome do meu pai.
Ao ler o registro de nascimento de Joaquim Amélia ficou pálida:
- E agora Joaquim!?
- Agora o quê, Amélia?
-Somos irmãos!
- Irmãos?
- Sim! Você é o filho do meu pai que ele diz não conhecer, as informações aqui contidas coincidem com as informações que meu pai comentara num dia dos pais.
- E agora Joaquim?
- Agora, Amélia, seremos apenas irmãos... amigos.
Joaquim abraçou Amélia carinhosamente e esta foi a última vez que Amélia o viu. Ele desapareceu sem deixar endereço nem rastros.

 


 
 
Poema publicado no livro "Contos de Outono"- Edição Especial - Junho de 2017