Romilton Batista de Oliveira
Itabuna / BA

Novos tempos

 

        

           

Por um momento, Hegemonia pede à Palavra e recita um decreto meio surdo, meio amargo, diante da multidão que acelera sua força popular, avassaladora. Hegemonia decreta a seguinte ordem:
– Hoje é um dia histórico para Brasilândia. Eu, que detenho o Poder de Decisão, anuncio, com todo o meu desejoso “cio destruidor”, ao cativo povo, que a corrupção foi extinta de “nossa” nação! Obedeci cegamente ao comando de quem assim me autorizou, o chefe do “Norte Comando Mundial”. Eu represento as vozes do poder de comunicação e prática jurídica. Sob o meu comando, o “Cavalo” entra na cidade sitiada sob a milícia que não aceitará nenhuma outra voz que venha contrariar o meu discurso. Declaro para os devidos fins de aniquilação da voz popular que, a partir de hoje, tudo o que foi dito nos jornais sobre corrupção nos partidos centrais que eu represento e dou grande apoio: PSDBC (Posição Satânica do Diabo Bêbado de Corrupção), DEMO (Dinastia Envenenadora do Movimento Opressor) e MDBF (Mando Diabólico da Besta Fera). O STFO (Sinistro Trato Financiador de Opressão) está sob o meu comando e a mim obedece.
Depois dessas palavras, o Sr. Hegemonia não contava com a estranha presença da Natureza, que sempre esteve a favor da classe trabalhista neste país. Natureza pediu a Palavra, e disse:
– Povo sofredor da Grande Brasilândia. Hoje, venho a público protegê-los contra a nefasta força de Hegemonia. Os tempos são outros. Ela esqueceu-se por completo que o povo não mais é o carro sem velocidade a caminhar em estrada perdida… Apesar de desiludido, ele, o povo, não aceita mais ser comandado por pensamentos ditatoriais, ultrapassados e centralizadores. Tens, em mim, tu, ó povo sofrido, o meu abraço….
De repente, houve um grande estrondo que vinha dos céus, e uma grande tempestade formou-se e em grande velocidade, dividida em três partes, seguiram por caminhos diferentes. A Tempestade Revolução dividiu-se em três: A Liberdade em Ação (LA), os Direitos Humanos (DH) e Quem Manda é o Povo (QMEP). A LA seguiu em direção ao Congresso, destruindo toda “raiz do mal” que por lá caminhava livremente. Foi grande a destruição! Sangue foi derramado por todos os lugares. Foram poupados os inocentes e defensores da real vontade do Povo Brasileiro. Os DH seguiram em direção ao Comando da Justiça (CJ), e quase todos foram fuzilados pelo forte vento destrutível que por lá passou. Foi também grande a derrubada de sementes do mal! E, finalmente, seguindo em direção ao Senhor Hegemonia, que se escondia num sintagma feminino… O estrago foi bem maior, pois não se tratava de uma só pessoa. Hegemonia escondia em si muitas vozes de comando, e foi imensa o estrago feito por QMEP. QMEP teve a maior das missões: expulsar da nação, a tremenda voz truculenta e opressora que estava a esconder milhares de vozes intercessoras, que se espalhavam em redes de televisão de comunicação e tantos outros meios contaminados pela avareza, fascismo e corrupção. Foram muitos mortos como nunca se viu na história desse país.
Assim, cumpriu-se nesse dia histórico, a fúria da Natureza. Não se engane, a Natureza jamais se engana. Às vezes, é preciso ser valente para enfrentar a “Corja Opressora” (CO) que pensava que ficaria, para sempre, sob o poder insano e usurpador dos desejos que deveriam ser seguidos, e não foram obedecidos pelo liberto povo. E o povo saiu às ruas, cantando, feliz em saber que a Natureza está ao seu lado para defendê-lo dos falsos representantes que existiam. Foi decretado um novo dia no calendário das comemorações: O Dia da Libertação do Povo Brasileiro das Amarras da Corrupção.
O digno representante do povo que fora perseguido humilhado e preso, ficou apenas um mês na prisão. O povo saiu às ruas, num grande cântico, numa única voz: Soltem o nosso presidente! Soltem-no ou todos serão engolidos por nossa voz. O presidente foi solto porque a raiz do mal fora derrotada pela Voz que comanda todas as demais vozes. A Voz de Deus se fez ouvir nas ruas, nas praças, nas esquinas, em todos os cantos da gigante nação…
Nos bares não mais se bebiam álcool para festejar o grande dia, mas muitas leituras paulofreirianas, gramscianas, espinosanas, deleuzianas, freudianas, blanchotianas, barthesianas, … Hegemonia sumiu. Foi tragado, como todos os seus cúmplices pela Força da Tempestade. Novos tempos emergiram nesta continental nação cujo Deus é o Senhor, que jamais permitirá que a Mentira vença a Verdade. E tudo voltou aos velhos tempos… Crianças nas escolas bem alimentadas, SAMU em ação, as universidades em evolução, os brasileiros levando conhecimento ao mundo inteiro… Piso-salarial ajustado de acordo com a realidade… Os ditos auxílios a juízes foram cortados, bem como todos os auxílios dados a ministros e demais políticos. O regime de aposentadoria tornou-se único para todos os brasileiros, ricos ou pobres, brancos ou negros, políticos ou não. Quem ganha mais passou a pagar mais impostos, quem ganha menos passou a pagar menos impostos. Brasilândia passou a ser reconhecida no mundo inteiro como país onde a desigualdade social é coisa do passado. E a ONU deu ao povo brasileiro o status de povo vencedor, pois percebeu que o povo se uniu contra os ditadores que escravizavam a nação. Os partidos que eram hegemônicos foram extintos, passando a existir apenas seis partidos, reunidos num só ideal: o de construir a nação por meio do povo, pelo povo e para o povo. Antes que eu termine esta história verídica não poderia esquecer de dizer que todos os políticos corruptos foram condenados e mortos. Todos os seus bens foram confiscados. Os empresários que deviam aos cofres públicos foram forçados a pagar tudo o que roubaram da nação. Artistas, jogadores, empresários em geral para não serem presos, entregaram todo o dinheiro que haviam depositado em contas no exterior. E Brasilândia voltou a ser aquele país que há alguns anos andava nas capas de jornais e revistas do mundo inteiro. E o novo presidente assim pronunciou à nação em poucas palavras:
– Povo de Brasilândia, em nome da democracia que venceu a corrupção, declaro que, a partir de hoje, nenhum brasileiro andará desestimulado, sem autoestima ou procurando uma outra nação para morar. O jovem de 16 anos possui consciência própria para votar e escolher o seu presidente, este também se responsabilizará por seus atos. No entanto, caso cometam graves crimes serão presos e condenados a trabalhar duramente para a família que ele causou dano. A escola não mais será o lugar de vandalismo. Quem desrespeitar o professor será imediatamente levado ao Supremo Tribunal Escolar (STE) que decidirá o seu destino. Professor em Brasilândia não mais será humilhado e passarão a receber o piso salarial correspondente ao de um senador da República. Os vereadores passarão a receber de um a três salários mínimos, de acordo com a quantidade de eleitores de seu município. Deputados estaduais e federais terão um teto salarial de cinco salários mínimos no máximo, e todas as regalias são extintas, a partir desta data. Eu, Oliveira Lulástico Pereira Inácio Batista da Silveira, oficializo, hoje, 01 de janeiro de 2019, um novo tempo de progresso, bem-estar e alegria a todo o povo brasileiro. E para a classe média, a mídia e os meios de comunicação quando disserem mentiras em seus jornais serão imediatamente fechados de acordo com a nova lei de responsabilidade diante da Verdade e dos Fatos Vistos e Comprovados pelo Povo. Institui, a partir de agora, o fim do Manicômio do Pânico (MP), e, imediatamente, crio o Ministério do Povo Brasileiro (MPB) que, de acordo com a voz da maioria, votada em plebiscito, decidirá, em nome do povo, o que eu devo fazer, aprovar e executar. Também torno público que o juiz que legislar em causa própria, influenciado por seus próprios pensamentos, imediatamente, perdera o cargo, passando a receber salário mínimo, como a maioria do povo brasileiro. Crio, também, hoje, aqui, agora, a Justiça Popular Brasileira (JPB), o maior órgão jurídico que julgará os casos de acordo com a voz cientificamente popular brasileira.

                                   (À  amiga filósofa e mestranda Lurdinha)

 

 

 
Conto publicado no livro "Contos Fantásticos" - Junho de 2018