Otaviano Maciel de Alencar Filho
Fortaleza / CE

 

 

Meu nome é Rhuan

 

Pablo, Francisco e Helena eram amigos desde o ensino médio. Após a conclusão dessa etapa de ensino, cada um seguiu seu rumo e desde então não se viam.
Navegando pela web e participando de redes sociais eles se reencontraram depois de cinco anos. O reencontro foi marcado para ser realizado na casa de Francisco, já que Pablo e Helena ainda moravam com os pais, e ele, Francisco, embora ainda não houvesse casado, decidira ir morar sozinho e agora estava estabelecido em um apartamento situado em uma região bem badalada da cidade. Ele, aliás, era o mais velho dos três e desde o tempo do ensino médio era o que demostrava mais afinco aos estudos. A conversa entre eles foi ficando animada e cada um ia falando de si e das coisas que aconteceram neste intervalo de tempo que ficaram separados. Entre uns goles e outros de vinho caiam todos em divertida gargalhada e dessa forma se sentiam cada vez mais descontraídos e aptos a falarem um pouco mais de cada um.
Helena, então, tomando a palavra disse que logo após a conclusão do ensino médio prestou vestibular para a faculdade de veterinária, conseguindo êxito na seleção de renomada universidade, tendo concluído o curso um ano atrás e que estava muito satisfeita com a escolha profissional, além de que ela gostava muito de animais. Ainda estava solteira e apenas “ficando”.
Pablo, logo após o discurso de Helena, revelou não ter optado pelo caminho acadêmico, preferindo ingressar na área técnica formando-se técnico em radiologia. Ainda estava morando com os pais, contudo, por pouco tempo, pois já estava com o casamento marcado para daqui alguns meses.
Francisco, levantando-se da poltrona, e levantando a taça de vinho bradou:
- Viva a vida, vamos dar um brinde à saúde. Olhem para nós três aqui reunidos depois de alguns anos, todos de bem com a vida! Eu pessoalmente me sinto muito realizado, tanto pessoalmente quanto profissionalmente. Terminei a faculdade de Psicologia e já tenho meu próprio consultório.
Nesse momento, os três, encostando as taças uma nas outras entoaram em alto e bom som:
- Viva a vida!
Após uns instantes de conversa jogada fora, Francisco perguntou para Helena:
- Vamos brincar de hipnose?
Helena um tanto intrigada, perguntou:
Você trabalha com hipnoterapia?
- Uso-a, como hobby, responde Francisco, jubilosamente.
Helena achando graça e meneando a cabeça, afirma categoricamente:
- Eu, hein, tô fora! Do jeito que estou talvez eu não saia do transe hipnótico. Não sei nem se consigo manter meus pensamentos fixos. Falou dando uma bela gargalhada.
Pablo, sentado no braço da poltrona, observava toda a conversa com olhares de desconfiança e, pedindo licença, falou:
- Eu aceito o desafio Francisco, afinal não acredito em hipnotismo. Vendo esses espetáculos na televisão acredito que seja tudo armação. Sentenciou.
-Tudo bem. Então vamos tentar. Primeiro quero que você fique totalmente relaxado e tire da cabeça todos os pensamentos e fixe sua mente somente no que eu lhe falar, tudo bem? – Disse Francisco.
Pablo consentiu e fez o que Francisco pediu.
Helena a tudo observava, sentada do outro lado no sofá de canto.
A sessão de hipnose começou e Francisco induziu Pablo a um estado de sonolência profunda. Durante esse tempo pedia que o mesmo continuasse dormindo até que ele mandasse acordar. Disse para Pablo que sua futura esposa estava ali com eles e que quando ele despertasse do sono ele poderia ir até ela e beijá-la. Alguns minutos depois Francisco pediu para ele acordar.
Atordoado e sonolento, Pablo olhou para Helena e viu na sua frente sua namorada que ficara em casa. Levantou-se e foi de encontro a Helena para beijá-la. Helena deu um pulo do sofá e reclamou:
- Para com isso Francisco. Traga-o ao estado de vigília.
Francisco, então, rapidamente, tomando Pablo nos braços, ordenou que o mesmo voltasse ao estado de profundo sono.
Para mostrar que tinha domínio na hipnose falou para Helena que tentaria levar Pablo para tempos anteriores ao atual, fazendo uma regressão de memória. Helena parecia não aprovar tal intento, mas Francisco continuou o experimento.
Após alguns minutos Pablo acordou sob o comando de despertar de Francisco. Os seus olhos estavam “esbugalhados”, o rosto totalmente vermelho e a respiração ofegante. Francisco diz:
- Pablo acorde totalmente e relaxe profundamente.
Algo de errado aconteceu durante o despertar hipnótico, pois Pablo não se referia ele mesmo, mas a outra pessoa.
- Onde me encontro? Quem são vocês? E quem é esse Pablo que você está falando? - Perguntou.
Pablo deixa de brincadeira, vamos voltar a conversarmos sobre outros assuntos. – Falou Francisco novamente.
- Não sei o que você está falando. Como vim parar aqui? Que coisas são essas nesse quarto? Perguntava apontando para um PC e uma televisão que se encontrava no recinto.
Nesse momento Francisco se deu conta de que realmente não era Pablo com quem ele estava conversando, mas com outra pessoa. Pablo não havia retornado de sua “visita” ao passado. Ele era agora a personalidade que ele havia animado tempos atrás, e não apenas trazido lembranças desse passado. Aproveitando a ocasião e um tanto assustado com o acontecimento, perguntou:
- Qual é o seu nome?
- Meu nome é Rhuan e pergunto novamente, quem são vocês?  Que roupas estranhas são essas que estão usando? E por que ela usa calças?  Perguntou apontando para Helena. Por acaso estou sonhando? Quero que me levem de volta para minha casa.
Helena estava muito assustada com tudo aquilo que estava acontecendo e gritava:
-Para Francisco, por favor. Faz o Pablo voltar, isso tá ficando muito perigoso!
Nesse instante, Francisco fita firmemente os olhos de Pablo/Rhuan e depois passa as mãos sobre os olhos dele cerrando as pálpebras e novamente o induz ao estado letárgico e com muita firmeza, após alguns minutos de sugestão, consegue trazer Pablo de volta aos tempos atuais.
Passados esses momentos, depois de se refazerem do susto, Pablo perguntou Para Helena e Francisco o que havia acontecido, pois ele não se lembrava de nada, somente que começou a se sentir sonolento e depois “apagou”. Aproveitou e perguntou:
- E então, Francisco, vamos fazer a hipnose? Desculpe eu ter caído no sono, esse vinho me fez dormir.
Francisco e Helena se entreolharam como a acordar que não se faria mais experimento de hipnotismo naquele momento. Helena disse que não tinha acontecido nada fora do normal e que ele não precisava se preocupar, pois não tinha feito nada de errado e que o importante era eles aproveitarem esse momento juntos e que a brincadeira com hipnose ficaria para outra ocasião.


  

 

 

 

 

 

 
 
Poema publicado no livro "Contos Fantásticos" - Edição 2019- Outubro de 2019