Genildo Soares da Silva
Campo Grande / MS

 

A libanesa

 

           

Beirute, Líbano, 1990: Era o início de mais uma década. Na casa do senhor Farid, nascia uma linda menina. Era o oitavo das suas crias. Família islâmica tradicional, composta pelo senhor Farid, sua senhora Samira e cinco meninos e, agora, três meninas. Decidiram dar-lhe o nome de Fatimah, em homenagem a filha do profeta Maomé. Era essa uma menina muito linda que o casal e amigos diziam que era mesmo a "princesa do Líbano".
De 1990 até 2006, o país viveu um clima de paz e até mesmo de prosperidade. Todavia, no verão de 2006, depois da captura de dois soldados israelitas pelo Hezbollah, Israel bombardeia todo o país, destruindo a sua infraestrutura e causando milhares de vítimas. Diante desta situação o senhor Farid, após longa conversa com a senhora Samira, toma a decisão de deixar sua terra natal e tentar a sorte em outro país. Decidiu então, pelo Brasil.
Fatimah estava com seus 16 anos, quando a família tomou a decisão de serem imigrantes, em busca de uma vida mais pacata, longe das guerras e conflitos. Venderam suas posses e partiram. Chegaram inicialmente na capital paulista, mas trocando ideias com patrícios, o senhor Farid ficou sabendo que em Campo Grande, existia a maior comunidade islâmica do Centro-Oeste e, era uma excelente cidade para o comércio. Assim Farid e família se estabelecem naquela capital calorosa, conhecida também como “cidade morena”. Fatimah agora recorda com saudade os cedros do seu distante país, porém começa a se adaptar na nova pátria. Seus pais abrem uma loja de calçados no centro da cidade. E já começam a fazer novas amizades tanto no contato com a clientela como também no seio da comunidade libanesa, através da participação na Mesquita Luz da Fé!
Longe do Oriente médio, aliás bem longe, precisamente em Cruz Alta, Rio Grande do Sul, no ano de 1988, na casa do senhor João Pedro e de dona Amanda, nascia um "piazito", o primeiro e que seria o único do casal. Deram lhe o nome do pai: João Pedro Filho. Como toda gauchada, o senhor João, desejoso de ter sua fazenda, sonha com o Mato Grosso ou até Rondônia. Assim em 1994, viajou para o Centro-oeste. Chegando em Campo Grande,se hospedou na casa de amigos. Antes de seguir viagem foi em um CTG, pois era festividade do dia 20 de setembro, Dia dos Farrapos! Neste dia festivo encontrou muitos conhecidos de sua terra e acabou encontrando um ótimo negócio, a compra de uma fazenda no Pantanal. Ainda naquele ano se mudou de estado, embora ficasse morando na capital até organizar melhor a sua propriedade. QUANDO OS CAMINHOS SE ENCONTRAM!
João Pedro Filho se tornou o braço-direito dos pais. Tanto em casa, como na fazenda. Estamos em 2008. João Filho está agora com 20 anos. Num dia de dezembro entra em uma loja de calçados e seu coração se depara com um coração libanês: o coração de Fatimah! Ali estava uma jovem morena de olhos verdes, cabelos cobertos com um véu, mas com um sorriso extremamente cativante. Faz a compra de um par de botas para a labuta no campo e lhe pergunta como fazer para lhe conhecer melhor. A jovem sem cerimônia lhe responde: - Sexta-feira faça uma visita em nossa Mesquita e, depois o meu pai lhe convidará para ir até nossa casa. João Pedro não perdeu tempo... Na sexta-feira foi a Mesquita e como a jovem falou, o senhor Farid o convidou para um chá com quibe! Ambos conversaram bastante e nascia naquele dia um novo membro da comunidade islâmica!
UM ANO DEPOIS!
João e Fatimah se casaram.Lembrando que o AMOR não tem fronteira, não tem etnias ou raças, nem credo religioso, em nome de Deus ou Alá, todos somos irmãos e filhos de um mesmo pai. Foi uma grande congratulação na comunidade islâmica e no CTG da "cidade morena". Dizem que a festa durou por todo o verão daquele ano.

 

 

 

 
 
Poema publicado no livro "Contos de Verão"- Edição Especial - Fevereiro de 2017