Helena Maria S. Matos Ferreira
Guapimirim / RJ

 

A voz do olhar

 

           

      O silêncio de alguém que não pode mais falar, que por alguma razão está privado desse poder, é simplesmente magnífico. E aí acontece algo mais extraordinário. Os olhos assumem o que lhe foi subtraído e se revestem de uma expressividade tamanha que é impossível não reconhecer a imensidão da alma que habita aquele corpo inerte, quase que completamente incapaz. É tão profundo que até nos assusta. 
Já disseram que os olhos são a janela da alma. Inquestionável tal reflexão. 

        Reparem que eles se fecham docemente quando o corpo recebe um afago; cerram-se com força quando desaprovam o que vêem ou escutam. Uma lágrima escorre pelo canto exterior quando lhe recordam um fato. Não há como ocultá-la. E o homem que não chorava não tem mais como disfarçar sua emoção.

Mas os olhos também sorriem, quando uma criança beija a sua face esquálida e irreconhecível, minada pela enfermidade.

E, quando finalmente fecharem-se para esse mundo, abrir-se-ão para uma infinita e esplêndida luz, e brilharão juntamente com ela para todo o sempre; fitarão eternamente o esplendor do Bem, do Belo e do Bom.

 

 

 
 
Poema publicado no livro "Contos de Verão"- Edição Especial - Fevereiro de 2017