Marilene Rodrigues da Silva Nogueira
Tururu / CE

 

Luar de saudades

 

           

           Sentei no batente da porta da minha casinha de taipa. A lua surgia entre os galhos das ateiras, situada entre os cajueiros. O dia despedia-se para dar vivas ao anoitecer. A luminosidade da lua era a mais bela luz que meus olhos enxergavam no momento. Aos poucos a escuridão ia triunfando, conseguindo apagar o verde das árvores. Um vento frio e manso balançando carinhosamente as folhas, agora em um tom escurecido. A lua cada vez mais ganhava ênfase entre as folhas das ateiras, e aos poucos ia ganhando destaque no céu, subindo magnificamente como uma rainha exibindo sua beleza de mulher, de poder e de encantamento.
            Meus olhos já conseguiam enxergar a lua completamente, sem os galhos para escondê-la. Admirei-a brilhando com graça no céu cor de anil. Fitei-a recordando a minha querida mãe dizer: “Olha, Marilene, a imagem de São Jorge na lua, montado no cavalo!”, eu sempre questionava os detalhes da história desejando saber onde cada parte da imagem estava situada, e minha mãe apontava com o dedo indicador, no entanto, por mais que me esforçasse, não conseguia visualizar. E agora depois de tantos anos, milagrosamente, o reflexo da imagem aparecia sob a minha vista. Uma satisfação de poder está ali, naquele local, sentindo aquela emoção, fez meu coração bater acelerado.
            O vento soprava cada vez mais gelado, enquanto o desfile da lua se tornava cada vez mais espetacular. As nuvens caminhavam com muita pressa diante dos meus olhos, cobrindo e descobrindo as poucas estrelas. Uma nuvem enorme se aproximou do nosso satélite prateado, tocou-o timidamente, mas como a timidez era imensa, afastou-se com precisão. Outra nuvem chegava, todavia logo se retirou. Por fim, uma nuvem grande beijou-a, envolveu-a entre o corpo numa espécie de enlace apaixonado, eu também, igualmente, beijei a lua com o olhar, senti-a leve. Amei-a sinceramente com o coração. Deus criou a natureza para ser amada, pois a criou com amor.
            A imagem da lua brilhando no céu era como se passasse um filme diante dos meus olhos, como se o tempo nunca tivesse passado e minha mãe estivesse comigo. Como se de repente ela pudesse se aproximar de mim, tocar em meu ombro, me mandar tomar banho para jantar. Ah! Como eu queria levantar, dirigi-me até a cozinha e ter o privilégio de encontrar a minha mãe repartindo a comida. Os pratos em cima do fogão a lenha, as panelas sobre a chapa, o fogo quase apagado, apenas com algumas brasas acesas para preservar a comida quentinha. O rosto de minha mãe suado por causa da quentura, e eu crédula que ela era imortal e nunca me deixaria. A dor da saudade fez com que meus olhos derramassem lágrimas. O tempo procede, as feridas cicatrizam, mas há sempre um vazio no peito confortado pela fé, crente que haverá tempos melhores.
            Embora a falta materna tenha sido angustiante na minha vida, ainda assim, sou grata ao Criador pela oportunidade de ter tido uma mãe como a dona Maria Nair Rodrigues da Silva. Posso dizer que ela era uma mãe no mais sentido real e sublime da palavra. Os onze anos que passei desfrutando de sua presença fazem-me crer que a intensidade nada tem a ver com o tempo, pois vivi pouco ao seu lado, mas ainda hoje os seus sábios ensinamentos permanecem vivos, como chama ardente de um amor que nem mesmo o tempo e a distância conseguem apagar.

 

 
 
Poema publicado no livro "Contos de Verão"- Edição Especial - Fevereiro de 2017