Anchieta Alves de Santana
Uruçuí / PI

 

Minha flor

 

           

            Inquieta mas tímida, olhar castanho e saltitante, Maria do Mulato, há muito tempo, buscava uma definição convincente para a palavra flor. E, não tinha dúvidas, na aula daquele dia 12 de junho mataria sua curiosidade.
            Naquela manhã de terça-feira, a professora Tereza do Américo, pontualmente, adentrou na sala de aula. Com uma pele amorenada,  olhos graúdos, corpo franzino, trajando uma roupagem cor de vinho envelhecido, trazia à mão  um diário de classe , um livro de Thereza Cochar Magalhães, um retroprojetor de imagens e as penúltimas avaliações  daquele semestre letivo.
           Passados alguns minutos, após os cumprimentos costumeiros, a docente fazia suas primeiras explanações sobre os conhecimentos aferidos naquela etapa de avalição, quando foi interrompida pela garota Maria do Mulato.
     - Professora, o que é uma flor? 
     - Isso não é assunto dessa aula. Falou um garoto que sempre sentava nas últimas cadeiras da sala.    
        A mestra ficou pensativa por alguns instantes. Pela primeira vez ouviu a voz de Maria do Mulato questionando algo na sala. Em seguida, disse, em voz suave, que qualquer conteúdo pode ser discutido em sua aula, desde que o interesse seja a construção do conhecimento. Desde que seja para saciar curiosidades. E, dirigindo-se à Maria do Mulato, proferiu a seguinte resposta:
     - Filha, a flor é a medida exata para a continuidade da vida.
       Quis, a garota, associar a definição conotativa dada pela professora ao porquê de sua mãe sempre lhe chamar de “minha flor”. Ela, que se mostrava contente, forçou a liberação de um tímido sorriso, balbuciou algumas palavras e aquietou-se novamente em sua nua e fria cadeira escolar.

 

 

 
 
Poema publicado no livro "Contos de Verão"- Edição Especial - Fevereiro de 2017