Rozelene Furtado de Lima
Teresópolis / RJ

 

 

Minha flor

 

           

        Fabiana era uma madrinha incrível, cuidadosa, atenta e muito ligada à afilhada. Uma madrinha que queria ser madrinha. Visitava sempre a menina, levava para passear, comprava presentes, era só imaginar que a Ana Cristina pudesse gostar de alguma peça ou brinquedo que ela comprava para ela. A Dinda acompanhava tudo que acontecia com Ana Cristina. Em todas as épocas especiais, como as festas de aniversário, Natal, Páscoa, as reuniões escolares, idas ao pediatra e tudo o mais, lá estava a dindinha, sempre presente.
Fabiana teve um mal súbito e foi internada, e logo quando Ana Cristina iria fazer sete anos.  A dinda já tinha encomendado a festa toda, mas que tristeza, não poderia estar para cantar os parabéns.
Ela tinha saído com Ana Cristina para comprar um vestido para a festinha de aniversário da menina. Foram a diversas lojas e a afilhada gostou de um vestido que estava na vitrine. Um feitio encantador: comprido, mangas curtas, rendado e cheio de fitas. Lindo! Embora tivesse de muitas cores, mas não tinha da cor vermelha, que era a cor que combinava com a festa. A menina experimentou o vestido branco, e ficou e ficou muito bem. Fabiana deixou encomendado o vermelho que chegaria sábado no dia do aniversário.
 A mãe da menina estava muito atarefada para ir pegar o vestido na loja, e a madrinha disse: - deixa que eu vou pedir ao meu marido para pegar. Imediatamente ligou para o marido e pediu para pegar o vestido, explicou onde ficava a loja e que trouxesse o vermelho e se não tivesse vermelho comprasse a cor que tivesse no tamanho de sete anos. O marido dela respondeu que tinha uma reunião marcada e talvez não desse tempo de pegar a encomenda antes da loja fechar. Ao que ela respondeu: - esquece, vou pedir a minha irmã. E como um polvo que procura estender seus braços para alcançar alimento. Ligou para a irmã explicando e fez o pedido. - Mana desculpe, mas hoje vai ser impossível vou viajar e volto tarde. Ligou para uma sobrinha e ela respondeu: - Hoje não posso, tem festa na escola da minha filha e termina tarde. E ainda tenho que fazer um bolo para levar. E pediu para mais três pessoas e cada uma delas teve uma justificativa para não pegar o vestidinho da menina.  
Fabiana, a madrinha, não poderia faltar com a menina, tinha feito todas as ligações do hospital. Ela já estava bem, mas ficaria internada mais uns dias para fazer exames. Ligou para loja onde ela tinha encomendado o vestidinho e falou com a mesma vendedora a quem tinha feito a encomenda. Depois de ouvir a cliente ela respondeu: - o vestido chega amanhã e vou entrar de férias hoje, mas venho aqui amanhã cedo e entrego o vestido no endereço, não se preocupe minha senhora, fique descansada e melhoras. - Muito agradecida agora estou tranquila, respondeu a madrinha.
A confiança oscila entre o tempo de cada um e o interesse pelo fato, e está mais em quem pede do que em quem é solicitado. Primeiro vem a desculpa e depois o arrependimento de não ter ajudado.
No dia seguinte ao dia do aniversário de Ana Cristina a madrinha que tinha providenciado todos os detalhes da festa, ficou anestesiada para alguns exames e ninguém a incomodou.  Um pouco enfraquecida, teve alta depois de cinco dias de ter ficado internada.
   Quando chegou a casa quis logo saber como foi a festa de aniversário da afilhada.  A mãe de menina comentou que a festa foi o máximo, a Ana Cristina curtiu muito com os amiguinhos. E continuou: - Não entendi porque você comprou seis vestidos e do mesmo modelo e um de cada cor. Ana Cristina quis usar todos e trocou de roupa sete vezes.
Preocupada, fui à loja e comprei o último vestido do modelo, o branco. Foi o primeiro que ela usou e terminou a festa com o vermelho. Foi um sucesso a novidade de trocar de vestidos a festa inteira.
Conclusão cada pessoa que ela solicitou ajuda arranjou um jeitinho de atender ao pedido dela, pensando na situação de ela estar internada num hospital, não quiseram faltar a confiança e cada uma comprou um vestido igual ao da vitrine na cor disponível. Como a vendedora tinha entrado de férias e a substituta não tomou conhecimento da encomenda do vestido, ficou satisfeitíssima com a comissão do primeiro dia de trabalho.

 

 
 
Poema publicado no livro "Contos de Verão"- Edição Especial - Fevereiro de 2017