Zilah dos Santos Borga
Ponte Nova / MG

 

 

A mulher de Tobias Bento

       

Ela era bem mais nova que ele. Tobias devia ter uns 58, 60, e Marilda uns 23,24. Casados de papel passado, com testemunha e tudo, moravam num belo casarão à beira da rodovia que ligava Zubilândia à Nova Camélia, distrito de Tarabiguara do Norte. Ele, pequeno fazendeiro arrendatário da propriedade onde morava, sentia na pele a inveja dos vizinhos. Inveja dos homens pela sorte de ele ter casado com aquela coisinha pra lá de deliciosa, e das mulheres por ela ser bem pra lá de gostosa, desejada por tudo que era peão de poeira do lugarejo.
Todo mundo sabe que a inveja é sentimento dilacerante, seu poder destruidor é capaz de transformar água benta em cana do capeta, coisas assim. Tanto que durante os dez primeiros anos de casada, nenhuma vizinha ousou, sequer, cumprimentá-la uma vezinha que fosse... Um único bom dia?!... nem pensar. Nananinanão! Aquela bisca? Uma pistoleira... isto sim!
Era comum entre a mulherada: Quem? Eu? Cumprimentar aquela sirigaita? Deus me livre, me perdoe e me guarde! Ela é vigarista, só casou com ele de olho na propriedade!... Ora, quem vai querer um velho caduco como esse Tobias se ele não tiver uma boa mufunfa pra deixar de herança? Ein... ein!?
...
A festa pelos 10 anos de casados foi no Grêmio da Cidade. Tobias juntou dinheiro durante dez anos só pra fazer a festa. Queria uma festança, coisa de entrar na história de Zubilândia. Pra isso reformou o Grêmio, mandou pintar, decorar, sofisticar o salão.  Contratou a grande orquestra de Simon Guilbert, sucesso internacional, diretamente de Bororó de Oeste.
Mas não parou por aí. Contratou alguns dos maiores costureiros da região para produzirem vestidos de baile para todas as madames da cidade – todas! - as mesmas que morriam de inveja de sua esposa. Queria vestidos maravilhosos para as fofoqueiras. Mais que isso, comprou um solitário lindo de 20 quilates para sua Marildinha, e 30 solitários de 10 quilates, um para cada “madame” convidada.
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À noite, exatamente às 23 horas, uma limousine dourada chega ao pátio do Grêmio, e sob os acordes de Emoções, da Roberto Carlos, desce Marida, glamurosa, radiante, esplendorosa, que desfila pelo corredor formado pela tal alta sociedade do vilarejo, sob os gritos eufóricos daquelas mesmas madames: Lindaaaa! Rainhaaaaa! Deusaaaa...!

 

 

 

 

 
 
Poema publicado no livro "Contos de Outono" - Edição 2020- Julho de 2020