|
Psicopedagoga, especialista em Educação Especial, mestranda em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie – São Paulo, onde desenvolve pesquisas sobre a literatura de Cordel. Este estudo teve como objetivo desenvolver um trabalho interdisciplinar, buscando resgatar a literatura de Cordel, mais conhecida no Nordeste brasileiro, e divulga - lá junto aos alunos do ensino fundamental da rede pública da cidade de Londrina. Considerando que esta modalidade de cultura se apresenta de várias formas, oral, escrita, declamada e cantada, entende-se que ela apresenta inúmeras possibilidades pedagógicas. Neste sentido o trabalho proposto se deu em duas etapas. A primeira etapa composta por estudos bibliográficos, contextualização e caracterização do objeto. A segunda etapa composta por aplicação prática, com realização de oficinas junto aos alunos da 3ª e 4ª séries do ensino fundamental da Escola Estadual Newton Guimarães. Nestas oficinas foram abordadas diferentes perspectivas e possibilidades da literatura de cordel. A principal intenção do estudo era possibilitar aos alunos um mergulho literário, em um mundo repleto de personagens, ritmos, temas, imagens, rimas entre outros. Temas estes vindos de uma modalidade da literatura popular que pode ser muito bem aproveitado no âmbito pedagógico. Levar o Cordel para sala de aula implica em mostrar a vitalização do gênero cultural como ferramenta para didático na educação.
Introdução O ponto de partida que orienta a construção deste projeto de pesquisa em nível de Mestrado baseia-se no desenvolvimento de atividades interdisciplinares que promovam tanto a aprendizagem de conteúdos significativos quanto a aproximação dos alunos à cultura popular.O trabalho de pesquisa que desenvolvo no Mestrado em Educação, Arte e História da Cultura e também no grupo de pesquisa sobre a literatura de cordel fez com que tornassem necessários os estudos sobre essa literatura e suas diferentes perspectivas, para tornar a cultura um meio atrativo no âmbito educacional. No campo prático buscou-se realizar atividades onde o educando pudesse se submeter a um mergulho literário, em um mundo repleto de personagens, ritmos, temas, imagens, poesia, rimas, entre outros. Temas estes vindos de uma modalidade da literatura popular que permitiu inúmeras possibilidades, sendo muito bem aproveitada no âmbito pedagógico. A proposta surge para que esta forma cultural pudesse ser apresentada e reconhecida pelos educandos no ensino fundamental, em qualquer que seja seu nível intelectual, tendo como plano de fundo o resgate da cultura popular e de seus valores. Levar o Cordel para sala de aula implicou em mostrar a vitalização do gênero cultural como ferramenta para didática na educação. Neste sentido, nos propomos a investigar, aplicar e avaliar o Cordel como ferramenta de trabalho pedagógico, estabelecendo um elo entre os educandos e a cultura popular brasileira por vezes inexistente na educação. Os trabalhos foram desenvolvidos de forma a estabelecer a motivação em relação a esse aspecto da cultura popular e organizar todo um processo de aplicação e estímulos em direcionamento ao fator principal, que é a apresentação, reconhecimento da origem e fruição da Literatura de Cordel. A pesquisa proposta mostrou-se de suma importância, tendo em vista que os valores culturais foram transmitidos e o processo de ensino e aprendizagem de conteúdos foi privilegiado. Através dos conteúdos pré-estabelecidos sobre a Literatura de Cordel, os alunos tiveram a oportunidade de construir conceitos e fundamentos, com os quais se familiarizou com esta modalidade literária e estabeleceu vínculos com as diversas formas de cultura. Outro fator muito importante a ser registrado é a contribuição deste estudo para demais áreas em educação. A literatura de cordel permitiu o estabelecimento da interdisciplinaridade com áreas como: artes plásticas, música, teatro, língua portuguesa, história. Metodologia A pesquisa foi desenvolvida em duas etapas. A primeira etapa foi composta por estudos bibliográficos os quais tiveram como objetivo o resgate histórico da literatura de cordel e a forma como ela vêm sendo aplicada na educação. Na segunda etapa, foi realizado um estudo de caso, no qual se desenvolveu um projeto com alunos de 3º e 4º séries do ensino fundamental da Escola Newton Guimarães na cidade de Londrina – Paraná. O projeto foi aplicado em oficinas que com duração de 15 dias nas quais foram trabalhados diferentes aspectos da literatura de Cordel. Para efeito didático o trabalho foi dividido em três momentos distintos: 1º Fruição – O contato inicial dos educandos com os folhetos, suas imagens formas e origens. 2º Desenvolvimento – Foi o trabalho de contextualização sobre cultura e a iniciação gramatical dentro dos aspectos de estruturação da literatura de Cordel. 3º Momento de produção no qual os educandos desenvolveram sua própria escrita, utilizando-se dos recursos literários do Cordel que a ele foi passado. Conhecendo a Literatura de Cordel O Cordel iniciou-se na Europa no século XVII e por ter uma forma editorial de baixo custo que atingia várias classes tornando-se acessível á grande parte da população. Era vendido em feiras e ainda é no Brasil, e seus autores o cantavam ou declamavam tornando o folheto mais atrativo. Segundo Linhares: O Cordel no Brasil chegou através dos colonizadores,
em folhas esparsas e até mesmo em manuscritos. Só após
algum tempo, com o aparecimento das tipografias no fim do século
passado, a literatura de Cordel se fixou no nordeste brasileiro. Afirma-se
também que muitos folhetos vieram de Portugal na memória
dos portugueses que os decoravam e chegando ao Brasil, os transmitiam
de forma oral repassando assim a cultura. A literatura de Cordel chega ao Brasil trazido pelos portugueses
e permanece até a presente data no nordeste brasileiro e em outras
regiões do país, tomando a forma de uma literatura confeccionada
pelo povo e para o povo, com características próprias, possuindo
seus próprios clássicos e mestres. Uma importante e fundamental
afirmação sobre a literatura de Cordel se deram em forma
de indagação ao professor Raymond Cantel, da Sorbonne, um
grande estudioso da literatura, quando ao mesmo questionou-se o Cordel,
dizendo que se tratava de uma poesia narrativa e impressa. A resposta
era que além de tudo o que havia sido citado, o Cordel se tratava
de uma literatura “POPULAR”. A partir daí podemos conceituar a Literatura de
Cordel como: Poesia narrativa, poesia popular e poesia impressa. A combinação de utilizações
da oralidade da forma impressa e de forma declamada pelos folheteiros
possibilitou o acesso e a admiração da Literatura de Cordel
não só pela massa semi-analfabeta ou analfabeta, como também
pelos estudiosos que participam de congressos, palestras e se interessam
pela realização desses estudos, pois reconhecem a riqueza
existente nos folhetos e a cultura que não pode ficar à
margem. Relato de
uma experiência interdisciplinar Diante da falta de integração entre as diversas
manifestações culturais e a própria educação,
que por vezes deixa de abordar ou aborda de maneira insignificante tais
manifestações, percebemos a necessidade de desenvolver um
trabalho que propiciasse aos alunos das séries iniciais do ensino
fundamental a construção de referências sobre a cultura
popular brasileira. Aliado a esta constatação, também
se acrescenta à necessidade de aprendizagem de conteúdos
específicos das diferentes áreas do conhecimento por parte
dos educandos, as quais precisam ser supridas. Neste sentido buscou-se
por meio da utilização da Literatura de Cordel em sala de
aula satisfazer tais necessidades. Esta etapa foi denominada de fruição, além
de proporcionar um momento de descoberta significativa aos alunos no que
se refere à contextualização histórica, também
proporcionou uma experiência de uso dos diversos sentidos. O contato
direto com as obras, os chamados folhetos, levou os alunos à ver,
sentir, ler e ouvir a Literatura de Cordel, pois esta além de ser
uma escrita poética é tradicionalmente declamada e cantada.
Esta atividade foi primordial para a continuidade do trabalho, o prazer
proporcionado por esta fruição, estimulou a curiosidade
dos alunos motivando-os a buscar maiores conhecimentos sobre literatura
até então desconhecida. A segunda etapa, a qual denominamos por desenvolvimento,
foi orientada no sentido de proporcionar aos alunos o conhecimento sobre
a estrutura da Literatura de Cordel, a qual é complexa e envolve
conhecimentos de três áreas, em especial: língua portuguesa,
artes e música. Na estrutura de linguagem e musical foram abordados
vários aspectos, os alunos trabalharam com rima, verso, proza,
métrica, sextilha, septilha, o que para eles era uma grande novidade.
Para a compreensão destes conceitos foram organizados dicionários
ambulantes e atividades como caça-palavras. Estas atividades também
orientaram as composições individuais, e assim cada aluno
produziu seu próprio folheto de cordel, etapa que denominamos como
produção. Na etapa de produção, os alunos fizeram
novas descobertas, conhecendo a xilogravura que é a forma original
de ilustração das capas dos folhetos, tradicionalmente esculpida
em madeira. Para que os alunos pudessem vivenciar todas as etapas da produção
de um folheto, foi necessário utilizar ferramentas adaptadas, de
modo a preservar a integridade física dos mesmos, visto que as
ferramentas utilizadas originalmente são estiletes de metal com
corte afiado. Este trabalho poderia
ser caracterizado como um resgate cultural, porém, acreditamos
que resgate não seria o termo mais adequado, resgate nos remete
a idéia de trazer algo de volta ao seu lugar, ou como definido
pelo dicionário de língua portuguesa Aurélio, sinônimo
de “restituir”, o que significa “Fazer voltar ou retornar”
(FERREIRA, 1993), o que não foi o caso, pois até então,
a Literatura de Cordel, assim como outras formas de expressão da
cultura popular, não foram introduzidas no contexto escolar. Como
no momento nosso objetivo é apenas relatar uma experiência
interdisciplinar com o uso da Literatura de Cordel, não nos aprofundaremos
nesta discussão, porém, a menção se faz no
sentido de tentar caracterizar o trabalho desenvolvido, no aspecto da
aprendizagem, ou seja, por parte do aluno, como um momento de descoberta.
Por outro lado, é sempre importante ressaltar, que a sociedade
contemporânea não valoriza a cultura popular, deixando-a
a margem do processo educativo, mascarando por vezes, sua riqueza, riqueza
esta perdida no tempo e no esquecimento. ADORNO, Theodor.(1995) educação após
Auschwitz.In: ADORNO, Theodor W. Educação e emancipação.
Rio de Janeiro: Paz e terra, pp. 119-138. BATISTA, A. Literatura de cordel: antologia. São
Paulo: Global, [19--]. V.2 BATISTA, S.N. Antologia da literatura de cordel.[S.1.]:
Fundação José Augusto, 1997. BOSSI. Alfredo. (org). Cultura Brasileira. Temas e situações.
Séries Fundamentos. 4 ed. 5ª imp. Gráficas Palas Athena.
São Paulo. 2004. CHAUÍ, Marilena. Cultura e Democracia: o discurso
competente e outras falas. 11 ed. Ver. E ampl. São Paulo: Cortez,
2006. FAUSTO NETO, A. Cordel e a ideologia da punição.
Petrópolis, Vozes, 1979. FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda, 1910-1989.
Minidicionário da língua portuguesa. 3ed. – Rio de
Janeiro: Nova Fronteira, 1993. LIMA, E. O. L. Folhetos de Cordel. João Pessoa:
Ed. Universitária, 1978. LIMA. Ariovaldo Viana (org.). Acorda Cordel na Sala de
Aula: A Literatura Popular como ferramenta auxiliar na Educação.
Fortaleza. Tupynanquim Editora. Queima Bucha, 2006. LINHARES, Thelma R. S. A história da Literatura
de Cordel. (disponível em: http://www.camarabrasileira.com/cordel101.htm.
Acesso em 8 mar.2006.) LOPES, R. Literatura de Cordel: antologia. 2 ed. Fortaleza:
BNB, 1983. LUYTEM, J. M. O que é Literatura popular. São
Paulo: Brasiliense, 1983. MEYER, M. Autores de Cordel. São Paulo: Abril Educação,
1980. MIZUKAMI, Mª da Graça Nicoletti. Ensino: As
Abordagens do Processo. Editora Pedagógica e Universitária.
São Paulo. 1986. PILLAR, Analice Dutra. Fazendo artes na alfabetização.
2 ed. / Analice Dutra Pillar. – Porto Alegre: Kuarup, 1987.79p.;
16x23cm, - (Série Alfabetização; 2). PINHEIRO. Hélder. LÚCIO, Ana C. M. Cordel
na sala de aula. São Paulo: Livrarias Duas Cidades, 2001. (Coleção
literatura e ensino - 2). |
|